O ARTISTA QUE VENDEU O PRÓPRIO RG PARA A CAPES

 



O ARTISTA QUE VENDEU O PRÓPRIO RG PARA A CAPES vomitado por christian palmer


O escritor chegou ao congresso de teoria crítica com os olhos injetados de café e tinta de caneta BIC. Nas costas, uma mochila de brim surrada, onde carregava uma garrafa de cachaça barata — metade álcool, metade lágrimas de orientando —, um exemplar de Vigiar e Punir todo rabiscado com o que parecia sangue de nariz, e um RG falsificado (o verdadeiro, ele já havia trocado por um livro do Baudrillard em 2017).

O tema do evento era “Novas Epistemologias da Desgraça”.

A PERFORMANCE

Chamaram seu nome. Ele subiu no palco sem cerimônia e, num único gole, esvaziou a garrafa de cachaça. Pegou o microfone, encarou a plateia de pós-graduandos anêmicos e anunciou:

— Isso não é embriaguez. É metodologia.

Houve um suspiro coletivo, oscilando entre o êxtase e o nojo. Em seguida, sacou a caneta BIC do bolso, furou a própria veia e injetou café coado há três dias com algum segredo zoológico que o CAPES jamais ousaria regulamentar. A agulha entortava enquanto ele berrava:

— Biopolítica do café-com-leite dos excluídos!

Dois professores da banca passaram mal. Um deles, de tanto chorar, perdeu a fala e começou a bater palmas em código morse.

Foi então que o escritor tirou o RG da carteira e o estendeu para o primeiro traficante de livros que viu na plateia:

— Toma meu documento, seu agente do capital simbólico! Me paga em Nietzsche ou em Real!

O traficante, um senhor de óculos fundo de garrafa, examinou o RG, soltou uma gargalhada e devolveu o documento carimbado em vermelho:

— Aprovado. Vale cinquenta reais e um verso do Leminski.

O PÓS (OU: COMO A BURRO-CRACIA ENGOLIU O MITO)

No dia seguinte, a CAPES aprovou sua bolsa com a nota: “Artista transcende a academia ao transformar a própria carne em objeto de estudo.”

Seu Lattes explodiu com publicações como “A ressaca como ferramenta pedagógica” e “Foucault, eu e o terceiro shot de tequila”. Perdeu o rim direito, mas publicou um artigo sobre isso na Revista de Antropologia do Corpo.

Virou lenda nos grupos de WhatsApp de teoria crítica.

P.S. Anos depois, encontraram seu RG leiloado num site de arte conceitual. A descrição dizia: “Documento de identidade de um homem que não existia.”

P.S.S. O traficante de livros morreu rico. Em seu testamento, pediu para ser enterrado com o RG do escritor — “para provar que identidade é uma ficção.”

P.S.Final: O escritor sumiu. Dizem que foi visto vendendo aulas online com o título “Como enganar a academia em 5 passos.” O curso tem fila de espera.

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