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dois olhares











vomitado por christian palmer



Finalmente a sexta tinha chegado. Queria sair. Saiu.
Ao chegar a seu destino, estagnou-se. Ficara a vasculhar o local com os olhos.
Eram olhos que diziam: quero-dançar
Percebeu que havia um olhar de resposta, de alguém lá no fundo
Um olhar que falava: quero-beijar-você
Dançaram e beijaram-se ao som de: qui nem jiló
Afinal, era noite de São João!

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O amor basta?



vomitado por christian palmer

Era noite. Era uma terça. O céu chorava. Tinha frio. Ouvia Adele. Tudo quase exatamente igual aquela noite de agosto. Na qual também sentia frio, numa noite chuvosa de terça-feira, ouvindo as músicas de Adele. "Tá faltando uma coisa para que tudo fique igual" - pensou. E nesse mesmo instante o celular vibra. Uma mensagem:

“Tô pensando em você!”

Um sorriso apareceu no rosto dele. E em voz alta, pensou: “agora sim, tudo exatamente igual àquela noite de agosto”. Onde tudo tinha começado. O começo de seu último amor.
Pegou o celular e digitou a resposta:

“Também tava pensando em você. Tava pensado como a noite hoje está exatamente igual aquela em que ficamos pela primeira vez!”

[PAUSE]

Quando ainda não tinha experienciado o amor, achava que quando acontecesse, o amor, nada mais importaria, tudo se resolveria. A solução para tudo era o amor, acreditava. Hoje, considera que tenha amado 3 vezes. Não saberia dizer qual desses amores foi maior ou mais importante, porque, para ele, todos tiveram o mesmo tamanho e significado. Entretanto era capaz de diferenciá-los:

  • no 1°, a novidade, nunca tinha experimentado a confiança cega, os sentidos aguçar com um simples tocar de pele, a necessidade de estar perto, o martírio por estar longe. Achava que seria para sempre, não foi. Mesmo tendo terminado, julgava que o amor ainda permanecia lá;
  • o 2°, a surpresa, pois acreditou que nunca mais conseguiria sentir o que sentia no 1°, besteira, tudo exatamente igual, menos a pessoa a quem direcionava o amor. E, no término, o amor ainda residia no coração dele;
  • o 3º, o mais intenso, o mais carnal, o que, talvez, ainda não tenha superado.


E ao fazer essa reflexão percebeu: o amor não basta, o amor não resolve os problemas.

[PLAY]

- Verdade. Talvez por isso eu tenha parado para olhar algumas fotos antigas. Encontrei esta. Lembra?

Reconheceu a foto, era uma tatuagem que tinha feito no antebraço esquerdo de seu amor, com uma caneta bic: um Pica-pau, super mal feito.

- rsrsrsrsrs Claro que eu lembro. Tentamos ficar acordado até o nascer sol. Tínhamos combinado ver o alvorecer juntos, mas você não conseguiu e adormeceu depois de termos feito amor pela 3ª ou 4ª vez.
- Desculpa se eu não sou uma coruja, igual a você. Naquele dia entendi que não foi por acaso que você tatuou uma no seu braço kkkkk
- Talvez tenha sido por isso mesmo kkkkkkk
- Tenho saudades dos nossos momentos. Queria poder vivê-los de novo.
- Seria bom se isso fosse possível, pena não ser.
- Sinto que eu ainda amo você.
- Engraçado, sinto que também te amo.

Não foi só isso que sentiram naquele dia. Sentiram que relacionamentos são livros. E que algumas vezes, mesmo que estes livros tenham 334 páginas, apenas 51 delas estão escritas e o restante permanece em branco, como se a história terminasse antes mesmo de chegar a metade.

No outro dia, percebeu que a foto de seu amor não estava mais aparente no whatsapp. Tinha sido bloqueado. Embora nunca mais tenham se falado, é bem possível que ainda se amem.


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Resoluta




vomitado por christian palmer

Tinha acordada decidida. Decidiu:

  • pegar o celular e apagar os amores - passados, novos e futuros;
  • destruir as roupas que não cabiam mais, mas que guardava na esperança de um dia pode-las usar novamente;
  • sair da academia, afinal tinha destruído as roupas que um dia couberam nela;
  • abrir mão de verdades excruciantes.

Agora, com quase 30 anos, ela se deu conta que vida é um sopro e desejava apenas poder desperdiça-la com mentiras consoladoras e luzes apagadas. Pegou novamente o celular, dessa vez para ligar para alguém que pudesse lhe acalentar com uma mentira durante a noite.

Quando a noite chega, deita-se nos braços da mentira, olha profundamente naquele olhar dissimulado e fala:

- Posso te pedir uma coisa?
- Claro, o que você quer?
- Eu sei que você não me ama. Isso não é problema.
A mentira consentiu sorrindo.
- Quero que você diga que me ama. - continuou
- Eu amo você.
- Eu sei que é mentira - disse isso e tirou a roupa

Ao acordar percebeu que estava só na cama. Apenas o cheiro da mentira permanecia ali.
E, enquanto tomava seu café com um pedaço de bolo de laranja recém preparado, pegou o celular para encontrar uma nova mentira.

- Amo mentiras aconchegantes - pensou em voz alta!


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3:45 AM







vomitado por christian palmer

O relógio em cima da cômoda do quarto marcava 3:45 da madrugada. Sabia que seria uma daquelas noites que só pegaria no sono ao nascer do sol. Levantou-se, foi até a cozinha e preparou um chá de camomila, aquilo o tranquilizava, ajudava a limpar a mente - mas não dessa vez.

Deitou-se no sofá, ligou a televisão, não para assistir, pela companhia apenas. Abriu a janela e apreciou o vento que fazia balançar a árvore que mora em sua ventana (uma Léia Verde, uma coccinea, da família das uvas utilizadas para fazer vinho). Aos poucos fora bebendo o chá, e cada gole que tomava revisitava uma antiga memória. 

Deu um gole no chá:  olhou a mesa vazia, onde outrora fizera um jantar à luz de velas, ao lado de uma companhia agradável, sorriu. 

Quão brega eu consigo ser, era engraçado ser brega - pensou!

Outro gole daquele chá mágico: percebeu que a bexiga tava cheia, foi ao banheiro, e admirando aquele micro boxe ficou imaginando como era possível que dois corpos coubessem ali. Mas cabiam, ele sabia, já tinha feito a prova dos nove. 

Voltou à sala, deu outro gole no chá e foi ao quarto pegar uma coberta, sentia frio, e ao mirar a cama vazia, lembrou-se de quando ali havia um outro corpo que lhe aquecia. 

Voltou ao sofá, outro gole: decidiu pegar os fones de ouvido e colocar algo para ouvir no Spotify. Passando pelas diversas playlists, deparou-se com uma que fora feita ao lado de alguém que por muitas vezes declarou estar apaixonado. Embora tenha ficado tentado a ouvir, achou prudente não mergulhar naquelas lembranças às 4:30 da madrugada. 

Aquilo tudo o fez conjecturar falar com alguns de seus amigos botânicos para que eles estudassem essa nova propriedade da camomila, que o deixara mergulhado em nostalgias lancinantes.

CHEGA - falou para si mesmo!

Despejou o restante do chá na pia da cozinha. Pegou uma garrafa de vinho,  sentou-se no sofá e deu um grande e longo gole, no gargalo mesmo. Afinal, achava muito esnobe tomar uma "taça de vinho". Como se fosse mágica, todos os seus pensamentos se dissolveram, desapareceram. Desejou apenas ver o sol nascer. Sorriu sem saber o porquê.

Sou um crápula. O mundo lá fora morrendo e eu aqui dentro de casa, sorrindo. - disse isso e adormeceu!












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Coisa de Preta








vomitado por Daniela Verena




Sob nossa pele
o mesmo vermelho.
Em cada camada
Os mesmos vasos e fluxos.
Talvez não tenhamos a mesma sensibilidade,
Mas o mesmo princípio de sentir
Quase todos os estímulos
E suas possibilidades.
Entre nossa pele, no entanto,
Diferentes laços, causos,
Dores e privilégios.
Somos tão iguais quanto diferentes.
Aos olhos de quem vê
Somos só pele
E o valor que ela carrega.
Aos olhos de quem julga
O seu vermelho
É azul.



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Happiness





vomitado por christian palmer

Acordou cedo para ir ao trabalho, como de costume. Tomou banho, fez o café, se vestiu e saiu. Ao entrar no elevador, pegou o celular para olhar as horas. Nesse momento, se dá conta que é o aniversário dela, está liberada do trabalho. Fica feliz, não pela data, mas por poder voltar para cama, queria muito voltar a dormir.

Ao acordar, após ter ido para cama novamente, repara no apartamento onde vive. Há tempos o tem achado grande demais para quem vive só, dá muito trabalho arrumá-lo. Porém gosta dele, sempre teve vontade de morar no alto de um prédio grande, sentia como se vivesse um sonho. Prepara outro café e vai à varanda. Admirando a vista dali de cima lembra-se de um poema de João Cabral:

Meus olhos têm telescópios
espiando a rua,
espiando a minha alma
longe de mim mil metros

Nunca foi de comemorar aniversário, não gosta. Acha deprimente. Na verdade, não gosta nem que lhe deem os parabéns. Todos os amigos sabem disso, e respeitam. Contudo sente a vibração do celular, uma mensagem. Deve ser algum desavisado mandando felicitações, pensa, decide ignorar. Deita no sofá, coloca algo para ouvir no spotify. O celular vibra novamente. Por poder ser alguém do trabalho querendo saber algo importante, resolve olhar. Todavia quem lhe mandava as mensagens era alguém que estava salvo com o seguinte nome na agenda: “Happiness”

“Sei que é seu aniversário, não vou lhe felicitar. Lembro que em uma de nossas noites você ter-me confessado que não gosta. Mas ontem comprei um vinho, pensei que poderia tomá-lo com você. Saio às 17h30 do trampo. E ai?”

Ela esboçou um sorriso. Era alguém que tinha conhecido durante o show da Florence, no Lollapalooza. Salvou o contato daquele jeito, por querer fazer alusão a música que tocava quando se beijaram no show: dog days are over. Transaram depois do show, naquele dia, e outras 2 vezes, tudo muito casual. Julga terem sido as melhores transas que ela transou. “É a felicidade mesmo” pensa.

Aceitou o convite. Comeu algo e adormeceu no sofá. Acordou bem próximo da hora combinada. Pegou uma vassoura e empurrou a poeira para debaixo do tapete, tomou um banho rápido, vestiu algo simples e confortável. Ainda tinha café na cafeteira, colocou numa caneca e foi novamente para varanda. Era impressionante como aquela varanda a fazia lembrar textos lidos. E não foi diferente, lembrou-se de algo que leu num blog que acompanha:
Reza a lenda que não casaremos
com o melhor sexo de nossa vida.
Até porque ser o melhor sexo
já é muita coisa pra se ser.

Não que ela quisesse casar, nem pensava nisso, entretanto já estava cansada de casualidades. Isso a deixou perdida em devaneios, talvez pelo cigarro que preparou para acompanhar o café. Ao longe, bem ao longe, ela escuta um barulho que a tira do transe. Era o interfone. A felicidade tinha chegado, o porteiro queria saber se poderia deixá-la subir. Prontamente ela fez o que julgou que todo mundo faria caso a felicidade batesse à sua porta: a mandou embora.

“Não, não deixe que suba. Obrigada. Boa noite!”

Desliga o interfone. Abre o Notebook, deseja escrever algo em seu blog. Antes, volta a varanda para terminar o cigarro e para que ela lembre de algo para postar no blog. E funciona, lembra-se de algo de Fernando Pessoa, volta ao notebook e cita-o:

O lago nada me diz.
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

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Morada








vomitado por christian palmer

Aquele ano estava sendo pesado para ela, sentia como se morasse do lado de fora de um abraço, aquilo lhe doía. O aniversário dela se aproximava, achava injusto ter que envelhecer um ano que não viveu. O fardo das responsabilidades era demais. Quando criança dizia a todos que um dia seria doutora. Hoje, em meio ao doutorado, arrepende-se de um dia tê-lo desejado, apesar de está estudando o que ama: as plantas. 

Para espairecer, às sexta costumava ir ao bar que ficava no meio do caminho entre a Universidade e a casa dela. Naquela sexta, mesmo estando mais cansada que o habitual, decidiu encontrar os amigos naquele bar, precisava beber um pouco. Ao fundo tocava Pearl Jam, lembrou-se do amigo que mora a 400km de distância, sempre que ouvia Pearl Jam, ele vinha a sua mente. Ao longe, avista os amigos numa mesa encostada à parede lateral e foi ao encontro deles.

Permanece no bar por algumas poucas horas.  A maior parte do tempo calada, mas seus olhos varriam aquele bar como se estivessem procurando por algo que perdeu. O que era estranho, pois ela não queria encontrar nada. Porém, vê alguém a 3 mesas de distância dela, seus olhos param por 1 segundo apenas. Ao perceber que os olhos dele também a fitam, desvia o olhar. Não  se demora muito mais ali.


- Tchau, galera, tenho coleta amanhã cedo - e partiu para casa!

Acorda cedo, vai à Universidade para fazer sua coleta por lá mesmo. Quando retorna da coleta, seu celular vibra: uma mensagem.

- Capitu - dizia a mensagem.

Por não ter entendido e não reconhecer o número, optou por não responder a mensagem. Tomou seu banho e foi para casa almoçar. Em casa, novamente o celular vibra:

- Não é você quem estava no bar ontem? A moça com os olhos de “cigana oblíqua e dissimulada”

E ela sorriu. Entendeu a referência a “Dom Casmurro”, gostava do livro e gostava ainda mais de citações. Olhou por um instante a foto do rapaz, o reconheceu. Era aquele que ontem ficou por 1 segundo fitando-a no bar. Decidiu respondê-lo.

- Então seria você o Bentinho que estava sentado 3 mesas a minha frente, ontem?

Conversaram por horas. Perceberam que havia muito mais em comum entre eles do que simplesmente aquele bar e Dom Casmurro. Decidiram se encontrar, no mesmo bar, só que dessa vez sem amigos e sentados à mesma mesa.

Ela sentia uma ansiedade boa, sorria à toa. Aguardava apressada para que desse a hora combinada. Isso tornou a tarde dela longa.  Mas, enfim, a hora chegou. Quando estava saindo, decidiu esperar um pouco, não queria que ele achasse que estava desesperada, ao passo que não queria se atrasar muito. Esperou o tempo que achou certo e foi. Para surpresa de ambos, chegaram ao mesmo tempo no bar. Cumprimentaram-se e foram se sentar. Pediram para o Garçon que falasse com o responsável pelo som ambiente para tocar Emicida, e foram atendido. Conversaram, sorriram, se olharam fundo nos olhos e beberam, beberam muito. Muitas horas depois pediram a conta e partiram. Ela morava perto, ele decidiu acompanhá-la.

A conversa continuava a fluir no caminho para casa. Ela não percebeu quando aconteceu: estavam com os braços entrelaçados. Logo ela que nunca gostou de demonstrações públicas de afeição. Em determinado momento, ela pára. Aquilo pega ele de surpresa.

Ele: O que foi?

Ela aponta para o chão e mostra a ele um pentagrama que haviam desenhado ali.

Ela: Preciso te contar uma coisa. Eu gosto de magias, sou quase uma bruxa. Pode ir embora se quiser, dá tempo ainda!

Ele a encara por alguns poucos segundos, sorri e diz:

- Já sei, vamos nos beijar dentro desse pentagrama.

Disse isso e a puxou para o centro do pentagrama.

Ela: Você sabe que se fizermos isso Satanás irá nos abençoar, né?
Ele: Sim, eu sei.

E ali no início da madrugada, posicionados no centro de um pentagrama no chão, beijaram-se até não terem mais fôlego.

Ela: Bentinho e Capitu tiveram um final trágico.
Ele: É por que eles não tiveram a bênção de Satanás.

Ela sorriu, o beijou outra vez  e se deu conta que, naquele momento, não estava sentido peso algum, era como se ela tivesse voltando a morar dentro de um abraço.

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Um amor de chuva




vomitado por christian palmer


Tenho impressão de que todas as vezes que nos encontrávamos, chovia. Parecia até que os deuses estavam nos presenteando, pois adorávamos o frio. Na verdade, era um pretexto para que pudéssemos nos abraçar. As mãos mais geladas que um dia tocaram minha pele. Mesmo geladas, elas me aqueciam com um calor inexplicável. Não conseguia entender como algo tão frio poderia ser fonte daquele tanto de calor.

Contudo naquela sexta-feira de junho, não me recordo o ano, nos encontramos e para nossa surpresa: a chuva não caia. Os deuses nos testavam: como nos comportaríamos num dia de calor. Aquilo era novo para gente, porém nos portamos exatamente igual, com o mesmo tanto de abraços e beijos, e aquelas mãos gélidas  e incontroláveis me aqueciam da mesma maneira. 

Fomos a um bar no centro da cidade. O visual rústico daquele lugar nos impressionou bastante. Ao fundo tocava Florence, um ponto em comum nos nossos gostos musicais. Parecia que alguém naquele bar queria nos dá as boas vindas apropriadamente. Ficamos por horas. Bebemos, conversamos e nos beijamos. Presenciamos o pôr do sol, concordamos que há tempos não tínhamos visto algo tão perfeito. Ainda bem que não chovia, ou não seria possível tê-lo visto. Ao cair da noite uma atração musical, não conhecíamos, mas curtimos. Dançamos a noite quase toda. Era tarde, decidimos ir pra casa, mas não a minha.

Todos estavam dormindo em casa. Deitamos na rede que ficava no terraço. Não demorou e a chuva se lembrou de nossa existência. Sentíamos uns pingos que não nos respeitavam e se colocavam entre a gente. O frio? não dava tempo de senti-lo, o ardor dos nossos corpos era maior. Consigo me lembrar como se tivesse sido ontem: a forma com que segurava minha cabeça por entre suas pernas, os beijos intermináveis, as idas e vindas daquelas gélidas mãos inquietas e os gemidos contidos. Tudo muito intenso, tudo muito molhado, sem nenhum afã. Era como se fôssemos a própria chuva. 

Naquele dia, a chuva caiu a madrugada toda, e foi a nossa última chuva juntos. Os deuses nos castigaram por não tê-la aproveitado da maneira correta. Talvez se soubéssemos que aquele dia marcaria o início do nosso fim, teríamos nos amado na chuva. Droga!

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Um sonho de sequoia


Sequoia National Park


vomitado por christian palmer



Querido diário

Hoje tá completando… para falar a verdade, diário, nem lembro mais quanto dias já se passaram. Há tempos não venho aqui falar com você, será que você ainda lembra que eu existo?

Engraçado isso, não sinto mais necessidade de coisas que antes não conseguia viver sem. Meus pares de sapatos, para quê? Aqueles vestidos, que muito antes disso tudo eu já não os usava, nem lembro se cheguei a usá-los, qual a razão deles? O batom e o blush, nem lembro mais como se usa. Os anéis, os brincos, as pulseiras, os livros lidos que nunca mais os lerei de novo; por que tantos perfumes? Percebo que não necessito deles mais. Pergunto-me se de fato algum dia cheguei verdadeiramente precisar, será? 

Mas de você, querido diário, eu senti falta. Minha ausência de você, por motivos que não sei explicar, me doía o coração. Como agora me dói a falta de presença nesta casa. Logo eu, diário, que sempre gostei de ser sozinha.

Ainda bem que tenho as músicas, tenho as histórias não lidas e as não contadas, tenho um mundo de possibilidades na palma da minha mão... e tenho você, querido diário para me fazer companhia e atenuar essa dor pungente.

Você bem sabe, diário,  que eu amo mais aqueles segundos que antecedem um fato marcante do que o fato em si. A troca de olhares no instante antes do primeiro beijo acontecer; o frio na barriga no exato momento anterior ao dizer “eu te amo”; aquela lágrima no milésimo de segundo anterior ao dizer: acabou. 

Levei a minha vida toda ansiando por estes segundos que antecedem a tudo, para mim, não há nada mais visceral de ser experienciado do que o “momento antes de qualquer coisa acontecer”. Por isso, diário, hoje não anseio que tudo volte ao normal, mas aguardo ansiosamente para sentir visceralmente o segundo que irá anteceder isso. 

Afinal, o normal que me transveste de necessidades desnecessárias, não me apetece. Mais do que nunca sei disso. Sei que preciso focar nas coisas importante, como, por exemplo, admirar as sequoias. Sim, as sequoias. Os seres mais magnanimes que habitam o mundo. Quero um dia poder ver e tocar uma, que sabem escalá-la. E ao admirá-la, ter certeza da insignificância da existência humana. 

Lembro-me criança, querido diário, dizendo-te que quando crescesse queria ser uma sequoia, lembra? Pois bem, diário, hoje sou crescida, não consegui ser uma sequoia, resta-me agora desejar que na minha próxima vida, eu consiga ser uma. Não custa sonhar, né?









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Dominical




Vomitado por Christian Palmer

Ao abrir os olhos percebeu a escuridão que ainda habitava o quarto. Pensou ser de madrugada, como estava com sono, resolveu voltar a dormir. Algum tempo depois, tornou a abrir os olhos e a escuridão lá permanecia. Teve vontade de ir ao banheiro e fome: assim, mesmo sendo de madrugada, resolveu levantar-se.

Foi ao banheiro, preparou o seu café com canela e fritou uns ovos como de costume. Passado algum tempo percebeu que até então não tinha olhado a hora, mas lhe parecia ser umas 8 da manhã. O que na verdade não importava, fazia uns 3 meses ou mais (talvez menos um pouco) que as horas não eram relevantes. Contudo, tinha o hábito de fazer apostas consigo mesmo.

- Se eu tiver acertado a hora, não irei lavar a louça agora, do contrário lavarei!!!

Então, pegou o celular e se surpreendeu...

- 13h30??? Como assim? Quantos horas eu dormi? - indagou-se em vão!

Não conseguia lembrar que horas tinha ido para cama, tampouco quanto tempo levou para pegar no sono. Afinal, aqueles foram dias em que o sono estava muito fugidio, nunca fora tão difícil dormir. Às vezes, era salvo pelo álcool.

- É impossível ficar sóbrio nesses dias escuros, principalmente em noites insones - refletiu

Como perdeu a aposta para si mesmo, e por ser um homem de palavra, fez o que lhe cabia: lavou a louça e ainda estendeu as roupas. Foi quando…

- Que dia é hoje? Parece domingo, né? - perguntou a si mesmo.

Nos últimos 3 meses tem sido assim, todos os dias pareciam ser domingo. E ele sempre odiou os domingos, sem saber o porquê, apenas acreditava que seria melhor extinguir tal dia dos calendários.

Agora mais do que nunca detestava os domingos: o vazio, o enclausuramento, a vontade de ser livre.

- Quantos domingos ainda restam para que tudo isso passe?

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Paisagem da janela!




vomitado por christian palmer


O sofá era pequeno, mal cabiam ali. Mesmo assim, não havia reduto melhor naquela casa. Passavam horas lá, deitados um nos braços do outro. A TV ligada ao lado, não assistiam, servia-lhes apenas como iluminação, pois apesar de gostarem do escuro, não queriam o breu total. Queriam se ver minimamente, admirar o outro, ter certeza que os braços que lhes abraçavam pertenciam a pessoa certa.


A janela... ahhh a janela! Esta sim era a verdadeira TV, principalmente em noites de lua cheia. Não havia filme, novela ou série mais bela e/ou empolgante do que ver e ser visto pela lua. Ali, só os dois e o silêncio da TV no mudo. Admiravam-na, a lua, enquanto ela estava visível. E como bons amantes que eram, amavam-se longamente. Por vezes, escutavam mentalmente Os Paralamas do Sucesso:


"Tendo a lua aquela gravidade 
aonde o homem flutua. 
Merecia a visita não de militares, 
mas de bailarinos e de você e eu."


Tudo parecia encaixar, os dias já não eram chatos, nem as noites solitárias. Tal qual os clichês, sentiam-se um só. Mas a verdade é que esse sentimento de unidade veio como um prelúdio do fim. É como costumam dizer: os cisnes sempre cantam a mais bela canção antes de morrer. E assim aconteceu: morreram como unidade, voltaram a ser dois.


De lá para cá o mundo também mudou, não é mais possível haver proximidade. Parece até que foi um castigo por terem acabado algo tão belo. Besteira, é ousadia demais imaginar isso. Porém, o fato é que aquelas doses diárias de sentimentos inexplicavelmente bons, não existem mais. O tempo transformou tudo em memórias.

  
Hoje, ao relembrarem, parecem-lhes tão distante aqueles dias que já não têm mais tanta certeza se tudo existiu ou se foi apenas um sonho. Será?

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Alvorecer



vomitado por christian palmer


A chuva que veio do nada, persiste em cair
Sinto o cheiro dela misturado ao cheiro do café, será o vizinho de cima?
Isso me deixa incomodado, esse cheiro, não o da chuva, o do café que não posso beber
Minha garrafa está vazia, e o frio me impede de levantar e preparar mais.

O vidro na janela está a soar, são os pingos da chuva que ainda continua a cair.
Sono, cade você? Não dá para viver sem você.
Que falta fazes.

Gostaria tanto de ter aqui, porque me abandonastes?
Desejo sonhar com o cheiro do café, não o do vizinho de cima.
Você não vem, não está mais aqui.

Fico, então, a pensar na falta das coisas que não tenho mais
Sinto a falta das músicas, falta do sofá, falta do calor... a falta do café
Tudo isso porque você me falta, sono!
Acho que você tá chegando, logo agora que gostaria de ver o alvorecer, miserável!

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AMOR?


vomitado por Christian Palmer



Ah!! e o amor?

Acho que o amor reside em um conjunto de acasos e num tanto de coincidências. É quase como ganhar na loteria, só que ao invés de termos de acertar os 6 números da mega sena, precisamos estar lá quando o conjunto de acasos e coincidências acontecerem, do contrário não veremos os planetas se alinharem, e ai puuumm!!! não encontraremos o amor.

O amor, então, é quase impossível, afinal, quase ninguém acerta os 6 números da mega-sena. Se fosse um filme, seria um daqueles com finais tristes, pois não bastasse ter que ser sortudo o suficiente pra estar no local certo e na hora certa, ainda temos que lidar com o fim do amor, porque como tudo que tem começo, também tem fim. E ao final nos resta o choro e a tristeza.

E pra onde o amor vai quando o amor acaba? Talvez eu tenha me expressado errado, não acredito que o amor acabe, acredito que, na real, o amor se transfira. O amor é um ser alienígena que para existir precisa entrar em alguém e viver em simbiose, sugando até não restar mais nada, dai se transfere para outra pessoa. Nos obrigando a buscá-lo novamente. Uma nova, cansativa e estressante busca. E mesmo que nós não queiramos mais experimentar este ópio que é o amor, estaremos fadados a buscá-lo, sempre, pois quando menos esperamos, pow, lá está o novo amor da nossa vida. E o ciclo se repete (in)felizmente.

Chega até a ser estranho colocarem o amor no patamar de sentimento bom, como pode algo que ao fim nos dará tristeza ser algo bom. Não há nada mais antagônico que o amor, nos dá razão para viver, ao passo que lentamente nos mata. Um bocado de felicidade transvestido de tristeza. Como diria o poeta: amor é uma monstruosidade, um delírio. Dá fome: ama-me ou devoro-te. É violência, queria que você soubesse que é extremamente violento você existir, AMOR!


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Um conto de pós-horror




Vomitado por Christian Palmer e Dayse Leone


Era um domingo, o tempo estava fechado, tinha acordado cedo pra a viagem, estava cansada e o clima me deixara com frio. Não consigo ter certeza se era o clima daquele domingo nublado ou se era o clima do sítio que meu pai acabara de comprar, e onde faria uma festa para nossos familiares.

Tinha pouco menos de 12 anos, ou um pouco mais. A essa altura já não consigo precisar a idade ao certo. Mas lembro que quase todos nossos familiares estavam presentes. Eles eram muitos, viviam espalhados por todo o país, o que dificultava o nosso reencontro. Antes daquela festa, não consigo me lembrar a última vez que nos reuníamos daquele jeito. E isso me deixava animada, principalmente com a Tia Malu, ela acabara de ter uma filha. Linda. Mas parecia, ao menos para mim, que estava sempre fazendo xixi ou cocô.

- Ana!! - Chamou a tia Malu - Por favor, vá lá dentro pegar uma fralda, meu amor!!

A essa altura, todos já estavam reunidos confraternizando e comendo do lado de fora da casa. A festa estava a todo vapor. Prontamente adentrei a casa para atender o pedido de minha tia. Até então não havia reparado como tudo naquela casa me parecia grande, as chaves me pareciam enormes. Acho que proporcional ao tamanho das portas, enormes portas, e janelas também, todas pintadas de azul. Recordo-me de vez ou outra abrir uma das janelas, a que dava de frente para uma capela, e ficar a tarde toda sentada na beirada da janela, de tão grandes que elas eram.

Outra coisa que me parecia grande naquele momento, era o silêncio que fazia dentro de casa, apesar de todo o barulho que se estava fazendo do lado de fora. No momento que notei o silêncio que fazia, pensei: as paredes devem ser largas e grandes aqui, por isso não faz barulho algum. E prossegui até o quarto que meu pai reservara para guardar os pertences dos convidados. 

 Assim que abri a porta, o quarto estava escuro, com a janela fechada, percebi que havia alguém dormindo sobre a cama, um senhor muito velhinho. Talvez algum parente distante que eu não reconheci no momento. Em respeito ao sono desse senhorzinho, tive o máximo de cautela que pude para não fazer barulho algum que o acordasse. Peguei a fralda na mochila de minha tia e ao sair do quarto, sorrateiramente, envolta aquele silêncio ensurdecedor, me assustei.


- Tia!!! - dei um grito abafado!



- Que demora, achei que não tivesse encontrado. Aproveitar que tô aqui e vou pegar o sabonete e a toalha pra dá um banhozinho nela.



-  Certo. Sem fazer barulho, tia, tem um senhor dormindo aí.


Então, ao entrar no quarto, Tia Malu percebeu algo:


- Ana, não tem ninguém aqui.



- Não é possível....


     Até hoje ninguém nunca conseguiu me explicar o que aconteceu naquele dia, mas a verdade é que eu nunca mais gostei do silêncio, tampouco tive coragem de entrar naquele quarto novamente sozinha.


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Sobre punhetinhas e conversas com Claudete





Vomitado pelo meu eu-lírico e por Claudete


- Mas é assim mesmo, cara - falou a amiga que também é de câncer, e dá certo valor a astrologia - Nós temos dessas coisas, os sentimentos são mais aflorados em nós. Por isso, relações casuais não nos fazem muito sentido.

Começaram falando sobre coisas sem sentido, por exemplo:

-  Se a pessoa te chama no zap pra te falar sobre a lua, ela ta afim de você?
- Não apenasmente significa que ela tá afim de você, como evidencia o fato dela, na verdade, tá querendo ter filhos contigo.
- Eita, será!?
- Sim, tá bíblia, olha lá!

E assim a conversa continuou. Com assuntos diversos, uns importantes, outros mais ainda. Como o assunto do primeiro parágrafo. Quando eles estavam falando como, para eles, rolar um sentimento é mais importante do que o sexo por sexo.
Mas não que eles recriminassem quem o fazia, inclusive, admitiram, ambos, que já o fizeram, mesmo após a decepção de “nenhuma vez foi legal pra mim”, mas mesmo assim continuavam a fazer, de quando em quando.E todas as promessas que fizeram a si mesmo de que não fariam de novo, tornaram-se vãs.

- Teve uma vez, Claudete, que fui ficar com alguém, fui à casa dela.

[PAUSE]

O truque é nunca trazer pra sua casa, pois se, por qualquer motivo o sentimento não rolar e a vontade não vir, simplesmente dá-se uma desculpa e vai embora. Isso é melhor, segundo ele, do que mandar a pessoa ir embora de sua casa.

[PLAY]

- Sei...
- Só que eu não sei o que danado acontecia, ela beijava de uma forma muito estranha, ruim. E olha que, modestamente, sou mestre em fazer meu beijo encaixar. Mas… cara, não dava. Aí juntou o fato do beijo ser ruim, com o sentimento não ter rolado. Não teve outra, dei xau, chamei o uber e fui embora.
- Caraca, que situação constrangedora, coitada.
- Mas veja bem,  quando chegamos numa certa idade, não tem outra, só fazemos aquilo que estamos com vontade. Então, não tem quem me faça fazer algo que eu não quero. E outra: o clima não tava legal, corria até o risco de broxar, ou no máximo uma meia bomba, aí já viu!
- Por isso é importante ter um parceiro fixo - afirmou a amiga - Porque não corre o risco da pessoa bater a cabeça uma na outra, ou os dentes durante o beijo e ficar com raiva, simplesmente se sorri e a brincadeira continua.


[PAUSE]

Vale dizer que Claudete é uma pessoa bem antagônica. Clara das ideias e contrária das atitudes.
A pessoa de quem ela pedia opinião a respeito, era alguém que ela ficava (ou fica - não dá pra saber. Lembra que ela é contrária das atitudes!?)

- Um relacionamento saudável - afirmou a amiga- é aquele no qual um sai pra curtir uma noite sem o outro, e tudo bem, isso não afeta a relação.
- Concordo plenamente.

Mas por ser antagônica, ela ficou com raiva do chrush, a ponto de não o “querer” mais, justamente, pois:

-  Ai sexta-feira eu o chamei pra sair, fazer alguma coisa e tal. Mas ele não quis, disse que tava muito cansado. Ainda disse que se eu quisesse ir à casa dele, que eu poderia, mas que provavelmente ele dormiria  - enfurecidamente, falou a amiga.

- Mas, cara, poha, o que que tem? Cadê o “tudo bem, sair sem o companheiro e isso não afetar a relação” Pelo o amor de Anúbis, isso não é motivo pra não o querer mais, por favor.

Ou vocês acham que isso é motivo plausível?

[PLAY]

Voltando a história anterior…

-Tudo bem, concordo. Afinal eu sou desses que necessito de sentimento. Mas me diz uma coisa, vocês, mulheres, num ficam tipo: “Caralho, véi, o mesmo caralho de novo… putz!”?

- Puta, ficamos sim, é foda - respondeu na lata, a Claudete.

-Mas e ai? qual a solução? Acabar? Pular a cerca? Porque, falando por mim, acho uma ideia mó errada terminar uma relação por querer experimentar uma nova pessoa. Ou fazer algo escondido, e também por a perder a relação, e ainda correr o risco de rolar sentimento com a outra pessoa, e ai fuder ainda mais.

 - É tipo isso: ficar entre a cruz e a espada. Acho que não há expressão melhor para simbolizar. O ideal mesmo seria poder ficar com outras pessoas numa boa. Ter uma conversa franca com @ parceir@, a fim de aceitar esse tipo de solução. Ai não seria uma pulada de cerca, não concorda?

- Só que fode, pois é muito difícil encontrar quem tope algo assim e também é muito difícil ser alguém descolado o suficiente pra aceitar isso. Pra mim, é inconcebível chegar pra pessoa que to ficando e dizer: “vai lá, amor, chupar uma rola diferente, amanhã a gente pega um cineminha, beijos!” Poha, num dá né!?!?!?

- Kkkkkkkkkk, verdade - gargalhou amiga.

- Infelizmente, fomos condicionados a sermos monogâmicos, maldita igreja católica.

- Cada vez mais concluo que relacionamentos longos não são saudáveis.

- Verdade, Claudete, os relacionamentos e as transas casuais são os cânceres do século. O que me leva a crê que… o negócio é ficar na punhetinha mesmo!!!

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Sentimentos em um momento de pandemia!!


Vomitado por Christian Palmer


Ha tempos não tenho regurgitado por aqui, mesmo estando há tempos querendo fazê-lo.

O estrangeiro, livro de Albert Camus, é um dos meus livros preferidos, isso se não for o preferido. E ele o é por um motivo que talvez seja diferente daquele que o Camus desejaria que fosse ao escrevê-lo.

No livro é retratado um protagonista que consegue ser alheio a tudo. As coisas não lhe afetam como afetariam "pessoas normais", é quase como se ele não se importasse, mas é um erro pensar assim, pois ele sente sim: sente as relações,  os acontecimentos, as idas e vindas. Apenas tudo lhe atinge de um jeito que tudo para ele, por conta de sua visão de mundo, o faz compreender e aceitar que tudo inexoravelmente aconteceria, de uma forma ou de outra. Por isso, ele consegue reagir aos fatos de um forma que se vista superficialmente, pareça ser fria. Assim, ele não chora os acontecidos. Isso acaba fazendo dele um completo estranho no mundo em que vive, um ESTRANGEIRO.

E, diferentemente dele, especialmente de pouco tempo para cá, as coisas têm me afetado de uma forma como nunca antes. É horrível sentir, na verdade. Só quem sente sabe. Sobretudo nesse momento atual em que estamos sendo acometidos por esse vírus apocalíptico, que por si só já seria suficiente para nos dá medo, angústia, sofrimento e nos causar dor.  Mas não bastasse isso, ainda somos bombardeados de seres nefastos que insistem em negar e ainda vem com discurso de "e dai?". E outras tantas que influenciadas por estes, não conseguem entender a gravidade do momento atual e acabam quebrando a corrente do bem que deveria está sendo formada agora, irritante para dizer o mínimo do mínimo. E quando os que quebram a corrente são aqueles que mais temos apreço? é pior ainda. Mais uma vez digo: sentir dói, só quem sente, sabe!

Por isso, "O estrangeiro" é o livro que guardo com mais carinho na minha estante e mente, pois em momentos como o que vivemos, a forma como Mersault, protagonista do livro,  vive a vida dele é muito tentadora.

"Ah! Como eu queria ser o Mersault, porque diabos não consigo sê-lo!?!?"

Contudo o jeito de ser de Mersault trouxe a ele enormes e horríveis consequências. Talvez pelo o mundo não estar preparado para tal, ou porque, de fato, não seja adequado viver assim. Mas a verdade é que Camus, propositalmente ou não, nos mostra que ser Mersault é deveras terrível. Afinal, se ele não chora os acontecidos, ele tampouco sorrir.

Assim, começo o livro me martirizando e desejando ser Mersault, mas ao cabo percebo que não é errado (muito menos certo) ser e agir assim, sentindo as coisas que acontecem ao meu redor (às vezes, intensamente demais). Sentir não é errado, mesmo doendo tanto, de quando em quando.

E, por fim, tenho fé, mas não num deus, muito menos num mito. Fé de que sejamos todos acometidos, neste momento, de uma grande e generalizada onda de consciência social, que saibamos entender que mesmo o mundo sendo um verdadeiro rio de lágrimas, respeitar a vida do outro e a nossa própria é o que devemos fazer. Pois viver, na minha humilde opinião, é a escolha certa a ser tomada.


PS: Se me permitem fazer alusão a um outro livro: Ultimamente, tenho me sentido tal qual o velho pescador Santiago em "o velho e o mar", que para me "provar" tive (tenho) que adentrar no alto mar, para brigar contra um peixe colossal, por dias. Somente eu, meu barco, uma linha e um anzol: para no fim, tendo fisgado o peixe ou não, não saber quem venceu a batalha: eu, o peixe colossal, ou tubarões que cercavam meu pequeno barco.

PS 2: desculpe-me não ser tão bom em analogias quanto um certo mito ai.














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