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Um sonho de sequoia


Sequoia National Park


vomitado por christian palmer



Querido diário

Hoje tá completando… para falar a verdade, diário, nem lembro mais quanto dias já se passaram. Há tempos não venho aqui falar com você, será que você ainda lembra que eu existo?

Engraçado isso, não sinto mais necessidade de coisas que antes não conseguia viver sem. Meus pares de sapatos, para quê? Aqueles vestidos, que muito antes disso tudo eu já não os usava, nem lembro se cheguei a usá-los, qual a razão deles? O batom e o blush, nem lembro mais como se usa. Os anéis, os brincos, as pulseiras, os livros lidos que nunca mais os lerei de novo; por que tantos perfumes? Percebo que não necessito deles mais. Pergunto-me se de fato algum dia cheguei verdadeiramente precisar, será? 

Mas de você, querido diário, eu senti falta. Minha ausência de você, por motivos que não sei explicar, me doía o coração. Como agora me dói a falta de presença nesta casa. Logo eu, diário, que sempre gostei de ser sozinha.

Ainda bem que tenho as músicas, tenho as histórias não lidas e as não contadas, tenho um mundo de possibilidades na palma da minha mão... e tenho você, querido diário para me fazer companhia e atenuar essa dor pungente.

Você bem sabe, diário,  que eu amo mais aqueles segundos que antecedem um fato marcante do que o fato em si. A troca de olhares no instante antes do primeiro beijo acontecer; o frio na barriga no exato momento anterior ao dizer “eu te amo”; aquela lágrima no milésimo de segundo anterior ao dizer: acabou. 

Levei a minha vida toda ansiando por estes segundos que antecedem a tudo, para mim, não há nada mais visceral de ser experienciado do que o “momento antes de qualquer coisa acontecer”. Por isso, diário, hoje não anseio que tudo volte ao normal, mas aguardo ansiosamente para sentir visceralmente o segundo que irá anteceder isso. 

Afinal, o normal que me transveste de necessidades desnecessárias, não me apetece. Mais do que nunca sei disso. Sei que preciso focar nas coisas importante, como, por exemplo, admirar as sequoias. Sim, as sequoias. Os seres mais magnanimes que habitam o mundo. Quero um dia poder ver e tocar uma, que sabem escalá-la. E ao admirá-la, ter certeza da insignificância da existência humana. 

Lembro-me criança, querido diário, dizendo-te que quando crescesse queria ser uma sequoia, lembra? Pois bem, diário, hoje sou crescida, não consegui ser uma sequoia, resta-me agora desejar que na minha próxima vida, eu consiga ser uma. Não custa sonhar, né?









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