vomitado por christian palmer
O sofá era pequeno, mal cabiam ali. Mesmo assim, não havia reduto melhor naquela casa. Passavam horas lá, deitados um nos braços do outro. A TV ligada ao lado, não assistiam, servia-lhes apenas como iluminação, pois apesar de gostarem do escuro, não queriam o breu total. Queriam se ver minimamente, admirar o outro, ter certeza que os braços que lhes abraçavam pertenciam a pessoa certa.
A janela... ahhh a janela! Esta sim era a verdadeira TV, principalmente em noites de lua cheia. Não havia filme, novela ou série mais bela e/ou empolgante do que ver e ser visto pela lua. Ali, só os dois e o silêncio da TV no mudo. Admiravam-na, a lua, enquanto ela estava visível. E como bons amantes que eram, amavam-se longamente. Por vezes, escutavam mentalmente Os Paralamas do Sucesso:
"Tendo a lua aquela gravidade
aonde o homem flutua.
Merecia a visita não de militares,
mas de bailarinos e de você e eu."
Tudo parecia encaixar, os dias já não eram chatos, nem as noites solitárias. Tal qual os clichês, sentiam-se um só. Mas a verdade é que esse sentimento de unidade veio como um prelúdio do fim. É como costumam dizer: os cisnes sempre cantam a mais bela canção antes de morrer. E assim aconteceu: morreram como unidade, voltaram a ser dois.
De lá para cá o mundo também mudou, não é mais possível haver proximidade. Parece até que foi um castigo por terem acabado algo tão belo. Besteira, é ousadia demais imaginar isso. Porém, o fato é que aquelas doses diárias de sentimentos inexplicavelmente bons, não existem mais. O tempo transformou tudo em memórias.
Hoje, ao relembrarem, parecem-lhes tão distante aqueles dias que já não têm mais tanta certeza se tudo existiu ou se foi apenas um sonho. Será?
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