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Morada








vomitado por christian palmer

Aquele ano estava sendo pesado para ela, sentia como se morasse do lado de fora de um abraço, aquilo lhe doía. O aniversário dela se aproximava, achava injusto ter que envelhecer um ano que não viveu. O fardo das responsabilidades era demais. Quando criança dizia a todos que um dia seria doutora. Hoje, em meio ao doutorado, arrepende-se de um dia tê-lo desejado, apesar de está estudando o que ama: as plantas. 

Para espairecer, às sexta costumava ir ao bar que ficava no meio do caminho entre a Universidade e a casa dela. Naquela sexta, mesmo estando mais cansada que o habitual, decidiu encontrar os amigos naquele bar, precisava beber um pouco. Ao fundo tocava Pearl Jam, lembrou-se do amigo que mora a 400km de distância, sempre que ouvia Pearl Jam, ele vinha a sua mente. Ao longe, avista os amigos numa mesa encostada à parede lateral e foi ao encontro deles.

Permanece no bar por algumas poucas horas.  A maior parte do tempo calada, mas seus olhos varriam aquele bar como se estivessem procurando por algo que perdeu. O que era estranho, pois ela não queria encontrar nada. Porém, vê alguém a 3 mesas de distância dela, seus olhos param por 1 segundo apenas. Ao perceber que os olhos dele também a fitam, desvia o olhar. Não  se demora muito mais ali.


- Tchau, galera, tenho coleta amanhã cedo - e partiu para casa!

Acorda cedo, vai à Universidade para fazer sua coleta por lá mesmo. Quando retorna da coleta, seu celular vibra: uma mensagem.

- Capitu - dizia a mensagem.

Por não ter entendido e não reconhecer o número, optou por não responder a mensagem. Tomou seu banho e foi para casa almoçar. Em casa, novamente o celular vibra:

- Não é você quem estava no bar ontem? A moça com os olhos de “cigana oblíqua e dissimulada”

E ela sorriu. Entendeu a referência a “Dom Casmurro”, gostava do livro e gostava ainda mais de citações. Olhou por um instante a foto do rapaz, o reconheceu. Era aquele que ontem ficou por 1 segundo fitando-a no bar. Decidiu respondê-lo.

- Então seria você o Bentinho que estava sentado 3 mesas a minha frente, ontem?

Conversaram por horas. Perceberam que havia muito mais em comum entre eles do que simplesmente aquele bar e Dom Casmurro. Decidiram se encontrar, no mesmo bar, só que dessa vez sem amigos e sentados à mesma mesa.

Ela sentia uma ansiedade boa, sorria à toa. Aguardava apressada para que desse a hora combinada. Isso tornou a tarde dela longa.  Mas, enfim, a hora chegou. Quando estava saindo, decidiu esperar um pouco, não queria que ele achasse que estava desesperada, ao passo que não queria se atrasar muito. Esperou o tempo que achou certo e foi. Para surpresa de ambos, chegaram ao mesmo tempo no bar. Cumprimentaram-se e foram se sentar. Pediram para o Garçon que falasse com o responsável pelo som ambiente para tocar Emicida, e foram atendido. Conversaram, sorriram, se olharam fundo nos olhos e beberam, beberam muito. Muitas horas depois pediram a conta e partiram. Ela morava perto, ele decidiu acompanhá-la.

A conversa continuava a fluir no caminho para casa. Ela não percebeu quando aconteceu: estavam com os braços entrelaçados. Logo ela que nunca gostou de demonstrações públicas de afeição. Em determinado momento, ela pára. Aquilo pega ele de surpresa.

Ele: O que foi?

Ela aponta para o chão e mostra a ele um pentagrama que haviam desenhado ali.

Ela: Preciso te contar uma coisa. Eu gosto de magias, sou quase uma bruxa. Pode ir embora se quiser, dá tempo ainda!

Ele a encara por alguns poucos segundos, sorri e diz:

- Já sei, vamos nos beijar dentro desse pentagrama.

Disse isso e a puxou para o centro do pentagrama.

Ela: Você sabe que se fizermos isso Satanás irá nos abençoar, né?
Ele: Sim, eu sei.

E ali no início da madrugada, posicionados no centro de um pentagrama no chão, beijaram-se até não terem mais fôlego.

Ela: Bentinho e Capitu tiveram um final trágico.
Ele: É por que eles não tiveram a bênção de Satanás.

Ela sorriu, o beijou outra vez  e se deu conta que, naquele momento, não estava sentido peso algum, era como se ela tivesse voltando a morar dentro de um abraço.

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