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Happiness





vomitado por christian palmer

Acordou cedo para ir ao trabalho, como de costume. Tomou banho, fez o café, se vestiu e saiu. Ao entrar no elevador, pegou o celular para olhar as horas. Nesse momento, se dá conta que é o aniversário dela, está liberada do trabalho. Fica feliz, não pela data, mas por poder voltar para cama, queria muito voltar a dormir.

Ao acordar, após ter ido para cama novamente, repara no apartamento onde vive. Há tempos o tem achado grande demais para quem vive só, dá muito trabalho arrumá-lo. Porém gosta dele, sempre teve vontade de morar no alto de um prédio grande, sentia como se vivesse um sonho. Prepara outro café e vai à varanda. Admirando a vista dali de cima lembra-se de um poema de João Cabral:

Meus olhos têm telescópios
espiando a rua,
espiando a minha alma
longe de mim mil metros

Nunca foi de comemorar aniversário, não gosta. Acha deprimente. Na verdade, não gosta nem que lhe deem os parabéns. Todos os amigos sabem disso, e respeitam. Contudo sente a vibração do celular, uma mensagem. Deve ser algum desavisado mandando felicitações, pensa, decide ignorar. Deita no sofá, coloca algo para ouvir no spotify. O celular vibra novamente. Por poder ser alguém do trabalho querendo saber algo importante, resolve olhar. Todavia quem lhe mandava as mensagens era alguém que estava salvo com o seguinte nome na agenda: “Happiness”

“Sei que é seu aniversário, não vou lhe felicitar. Lembro que em uma de nossas noites você ter-me confessado que não gosta. Mas ontem comprei um vinho, pensei que poderia tomá-lo com você. Saio às 17h30 do trampo. E ai?”

Ela esboçou um sorriso. Era alguém que tinha conhecido durante o show da Florence, no Lollapalooza. Salvou o contato daquele jeito, por querer fazer alusão a música que tocava quando se beijaram no show: dog days are over. Transaram depois do show, naquele dia, e outras 2 vezes, tudo muito casual. Julga terem sido as melhores transas que ela transou. “É a felicidade mesmo” pensa.

Aceitou o convite. Comeu algo e adormeceu no sofá. Acordou bem próximo da hora combinada. Pegou uma vassoura e empurrou a poeira para debaixo do tapete, tomou um banho rápido, vestiu algo simples e confortável. Ainda tinha café na cafeteira, colocou numa caneca e foi novamente para varanda. Era impressionante como aquela varanda a fazia lembrar textos lidos. E não foi diferente, lembrou-se de algo que leu num blog que acompanha:
Reza a lenda que não casaremos
com o melhor sexo de nossa vida.
Até porque ser o melhor sexo
já é muita coisa pra se ser.

Não que ela quisesse casar, nem pensava nisso, entretanto já estava cansada de casualidades. Isso a deixou perdida em devaneios, talvez pelo cigarro que preparou para acompanhar o café. Ao longe, bem ao longe, ela escuta um barulho que a tira do transe. Era o interfone. A felicidade tinha chegado, o porteiro queria saber se poderia deixá-la subir. Prontamente ela fez o que julgou que todo mundo faria caso a felicidade batesse à sua porta: a mandou embora.

“Não, não deixe que suba. Obrigada. Boa noite!”

Desliga o interfone. Abre o Notebook, deseja escrever algo em seu blog. Antes, volta a varanda para terminar o cigarro e para que ela lembre de algo para postar no blog. E funciona, lembra-se de algo de Fernando Pessoa, volta ao notebook e cita-o:

O lago nada me diz.
Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

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