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Um conto de pós-horror




Vomitado por Christian Palmer e Dayse Leone


Era um domingo, o tempo estava fechado, tinha acordado cedo pra a viagem, estava cansada e o clima me deixara com frio. Não consigo ter certeza se era o clima daquele domingo nublado ou se era o clima do sítio que meu pai acabara de comprar, e onde faria uma festa para nossos familiares.

Tinha pouco menos de 12 anos, ou um pouco mais. A essa altura já não consigo precisar a idade ao certo. Mas lembro que quase todos nossos familiares estavam presentes. Eles eram muitos, viviam espalhados por todo o país, o que dificultava o nosso reencontro. Antes daquela festa, não consigo me lembrar a última vez que nos reuníamos daquele jeito. E isso me deixava animada, principalmente com a Tia Malu, ela acabara de ter uma filha. Linda. Mas parecia, ao menos para mim, que estava sempre fazendo xixi ou cocô.

- Ana!! - Chamou a tia Malu - Por favor, vá lá dentro pegar uma fralda, meu amor!!

A essa altura, todos já estavam reunidos confraternizando e comendo do lado de fora da casa. A festa estava a todo vapor. Prontamente adentrei a casa para atender o pedido de minha tia. Até então não havia reparado como tudo naquela casa me parecia grande, as chaves me pareciam enormes. Acho que proporcional ao tamanho das portas, enormes portas, e janelas também, todas pintadas de azul. Recordo-me de vez ou outra abrir uma das janelas, a que dava de frente para uma capela, e ficar a tarde toda sentada na beirada da janela, de tão grandes que elas eram.

Outra coisa que me parecia grande naquele momento, era o silêncio que fazia dentro de casa, apesar de todo o barulho que se estava fazendo do lado de fora. No momento que notei o silêncio que fazia, pensei: as paredes devem ser largas e grandes aqui, por isso não faz barulho algum. E prossegui até o quarto que meu pai reservara para guardar os pertences dos convidados. 

 Assim que abri a porta, o quarto estava escuro, com a janela fechada, percebi que havia alguém dormindo sobre a cama, um senhor muito velhinho. Talvez algum parente distante que eu não reconheci no momento. Em respeito ao sono desse senhorzinho, tive o máximo de cautela que pude para não fazer barulho algum que o acordasse. Peguei a fralda na mochila de minha tia e ao sair do quarto, sorrateiramente, envolta aquele silêncio ensurdecedor, me assustei.


- Tia!!! - dei um grito abafado!



- Que demora, achei que não tivesse encontrado. Aproveitar que tô aqui e vou pegar o sabonete e a toalha pra dá um banhozinho nela.



-  Certo. Sem fazer barulho, tia, tem um senhor dormindo aí.


Então, ao entrar no quarto, Tia Malu percebeu algo:


- Ana, não tem ninguém aqui.



- Não é possível....


     Até hoje ninguém nunca conseguiu me explicar o que aconteceu naquele dia, mas a verdade é que eu nunca mais gostei do silêncio, tampouco tive coragem de entrar naquele quarto novamente sozinha.


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