A Arquivista Indesejada

 


A Arquivista Indesejada
vomitado por christian palmer



Era uma vez um grupo de zap chamado "Arquivistas Anônimos" — que, na realidade, não tinha nada a ver com arquivologia. Era só um bando de amigos que, por algum capricho do destino, tinham diplomas em arquivologia e nenhuma vontade de falar sobre isso. O grupo era sagrado: memes duvidosos, fofoca alheia, áudios de três minutos que ninguém ouvia até o fim. Um equilíbrio perfeito.

Até que, um dia, ela chegou.

Uma arquivista de verdade. Uma mulher que acreditava piamente que "Arquivistas Anônimos" era um espaço de debates acadêmicos, troca de referências bibliográficas e discussões emocionantes sobre a normatização de pastas suspensas. Ela entrou no grupo com um sonoro:

— Boa tarde, colegas! Gostaria de compartilhar um artigo fascinante sobre a gestão documental no século XIX!

O silêncio no grupo foi tão pesado que até o Wi-Fi travou. Os cinco amigos arquivistas (mas não arquivistas de coração) se olharam através das telas, num misto de pavor e incredulidade. Era como se um professor tivesse invadido a festa da faculdade.

Ninguém teve coragem de dizer nada. Nem mesmo a Pri, que era a mais incomodada de todas — a ponto de roer as unhas até o osso toda vez que a intrusa postava um PDF sobre conservação preventiva de acervos. Pri jurava que ia expulsar a moça.

— É hoje, galera. Hoje eu vou dar o kick.

Mas o dia virava noite, e a intrusa continuava lá, feliz da vida, compartilhando "curiosidades sobre tabelas de temporalidade". Pri, mesmo com o dedo tremendo sobre o botão "remover", travava. "E se ela fizer um escândalo no LinkedIn?", pensava. "E se nos processar por danos morais arquivísticos?"

Os meses passaram. O grupo virou um misto de desespero silencioso e resignação. Até que, um belo dia, sem aviso, ela simplesmente saiu.

— Gente... a louca sumiu.

Era verdade. A intrusa havia partido sozinha, talvez percebendo que um grupo onde a discussão mais profunda era "qual o pior cheiro que um documento antigo pode ter" não era o lugar para ela.

E então, em uníssono, o grupo soltou um suspiro coletivo. Pri, mesmo depois de meses de procrastinação heróica, foi elevada à condição de heroína involuntária.

— Pri, sua passividade deu frutos!
— Demorou, mas a natureza agiu.

E assim, o equilíbrio foi restaurado. Memes voltaram a fluir, áudios inúteis foram gravados, e a única menção à arquivologia foi um "Galera, cadê aquele link daquele negócio daquela vez?" — perdido para sempre, porque ninguém sabia arquivar direito mesmo.

Fim.

— Ou seria "Arquivo Morto"?


P.S.: Após a saída dela, Pri checou o perfil da intrusa 14 vezes no LinkedIn, temendo um post 'Toxicidade em Grupos Profissionais'.

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