Performance no Sarau (Ou: Como Dei Um Tiro no Pé e Ganhei Uma Bolsa de Artes)
(Ou: Como Dei Um Tiro no Pé e Ganhei Uma Bolsa de Artes)
vomitado por Christian Palmer
O sarau estava uma bosta.
Poetas recitavam versos sobre "o vazio da alma pós-moderna" enquanto tomavam chá de camomila. Um cara de coque samurai declamava odes ao amor líquido, e o público batia palmas como se estivesse em um culto.
Foi então que ele entrou.
Pernas trêmulas, barba por fazer, espingarda a tiracolo, e um sorriso de quem já tinha enfiado a língua na boca do diabo.
— Deixem dessa merda. Querem poesia de verdade? — gritou apontando a espingarda para o pé — Então tomem — atirou!
PAF!
O poeta do coque samurai engasgou no chá.
— Mas que diab—
Sangue jorrou no palco de madeira.
Ninguém aplaudiu. Ninguém fugiu.
Todos só olhavam, envergonhados de ainda estarem vivos.
— ISSO, — ele gritou, mancando em círculos — É ARTE CONTEMPORÂNEA, SEUS MERDAS!
PLATEIA EXTASIADA!!!!!
Uma hipster de óculos redondos começou a filmar no iPhone:
— Isso é um comentário visceral sobre a violência autoinfligida da geração Z!
Um velho de barba grisalha chorou:
— Isso é poesia. Dor de verdade! A que não rima, não edita, não pede licença pra doer!
E o poeta do coque, puto, gritou:
— Isso é só um doente mental com uma arma!
O escritor riu, jogou a espingarda no chão e cuspiu:
— Errado. Isso é um doente mental com uma arma... e UMA BOLSA DA CAPES.
P.S.: No dia seguinte, a prefeitura colocou uma placa no local:
“Aqui, em 2023, um artista performático transcendeu a linguagem.”
P.S.S.: O poeta do coque processou, mas perdeu. O juiz considerou o tiro “intervenção estética legítima”.
P.S. Final: O escritor agora dá workshop online:"Como Transformar Sua Autodestruição em Currículo Lattes."
Comentários
Postar um comentário