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Mostrando postagens de abril, 2025

Trepei com o absurdo: ou Camus feat Bukowski

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  Trepei com o absurdo: ou Camus feat Bukowski vomitado por Christian Palmer O relógio marcava 3h08 da madrugada — nem noite, nem dia, só o horário em que os bares desistiram de você, todos. Queria fumar, mas só encontrou uma barata. Matou com a mão mesmo. Meursault era tido como um homem frio — era o vazio por decreto próprio. Um estrangeiro sem pátria, um imigrante até dentro de si. O sol queimava, as pessoas falavam, os dias passavam, e ele assistia a tudo como quem olha pela janela de um trem em movimento: interessado o suficiente para não pular, mas nunca o bastante para descer. Então, ouviu uma voz gritar. A porta abriu antes dele responder. Era ela: Cass. Uma mulher bela como um tsunami de álcool e ódio — intensa, indesejada e autodestrutiva. Odiava a sua beleza, pois sabia: era a única coisa que os idiotas viam nela. Os olhos dela tinham o poder de devorar almas e cuspia veneno com a língua. Ela não transava, não fazia amor — fazia autópsia. Nunca encontrava, mas não desist...

Ato 3: Ao menos eu a Vivi: Fim?

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  Ato 1 - clique aqui Ato 2 - clique aqui Ato 3: Ao menos eu a Vivi. Fim? vomitado por Christian Palmer João Pessoa, PB - 23h13, Quinta-feira. Sabia que Vivi costuma ir ao Bar do Rato Cego às quintas depois das 23h00. Resolveu ir até o bar, encontrá-la e dizer que foi por acaso. A noite estava quente - igual ao sexo dela. Foi andando. Nenhum motorista aceitou a corrida — reza a lenda que o bar foi construído sobre sonhos ruins, isso os assombrava. Chegou ao bar suado. Vestido de saudade dela. Queria se iludir novamente. Fazia tempo que não ia lá. Mas há tempos fantasiava Vivi ali, pedindo uma dose da cachaça mais barata. Fumando um cigarro de cravo e menta. Contando uma história que ninguém acreditaria, se não fosse pelas cicatrizes que carregava. Entrou devagar. Como se fosse possível entrar devagar num lugar que já era todo silêncio e penumbra. O dono estava lá — cabelos mais ralos, cara de quem já sabia tudo. — Tá procurando alguém? — perguntou, sem pressa. Ele hesitou. Achou qu...

Ato 2: Vivi — nome ou aviso?

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  Ato 2: Vivi — nome ou aviso? vomitado por Christian Palmer Ela tava ali, sentada na beirada do meu colchão — manchado de café e sonhos idiotas. Vivi — aquela mesma do Bar do Rato Cego — ainda não sei se é o nome dela ou um aviso. Tinha os olhos de quem apagava os cigarros no próprio peito só pra ter certeza de que ainda sentia algo. "Você me ama?" — quem pergunta isso no segundo encontro? "Não" ,  eu respondi. Com medo de ser verdade. Droga… é só o segundo encontro mesmo? Ela riu. Uma risada cuspida da alma — daquelas que não duram, mas deixam eco. Vivi era um incêndio que fazia aulas de ballet. Me contou que já arrancou o próprio dente com um alicate . "Por amor?" perguntei. "Por tédio", ela disse. Durante nossa trepada, me senti um piromaníaco tentando apagar uma fogueira com gasolina. Foi sublime. No fim, ela levou minha camisa, tomou o resto do café — amargo...

O Filtro de Barro

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  O Filtro de Barro vomitado por christian palmer, inspirado em Michel Melamed Me apaixonei: foi sujo, rápido e sem aviso — tipo deslizamento de terra. Menos de 23 dias depois, casamos. Um com roupa velha de brechó, o outro com camisa cheirando a fumaça e desilusões. Alugamos um AP no Santos Dumont, em Maceió. Terra que queima sola de chinelo - igual a gente queimando etapas. Na época, eu tava tão louco de amor que queria dar um presente que dissesse tudo — mas sem ser demodê. Nada de buquê, bombom ou aliança. Eu queria algo que fosse só nosso. Numa ida à feira, voltando sozinho, passei na frente de uma bodega. E o vi. Marrom, parrudo, alma de vó: um filtro de barro. Pensei: — Cara, é isso. Fazia todo o sentido. A gente vivia falando sobre querer algo puro, verdadeiro. Tudo era rápido demais. Plástico demais. Sede demais. Eu queria ser o contrário disso. Queria ser o gole que acalma o corpo. Que lava o sal das lágrimas sem que ninguém veja. Comprei. Nem pedi pra embal...

Ato 1: No Bar do Rato Cego — Vivi

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Ato 1: No Bar do Rato Cego — Vivi                                                            vomitado por christian palmer "Ela não era bonita. Era pior. Era do tipo que você bebe devagar só pra não correr o risco de ela ir embora." Chovia fino em João Pessoa. Ele chovia grosso de cansaço da vida. Naquela terça sem cor, foi para onde sempre acaba indo quando o mundo o empurra pelas beiradas: o Bar do Rato Cego, em Mandacaru. Sem placa, sem moral, sem futuro. Só uma vitrola quebrada, garrafas suadas e paredes que já ouviram mais confissões do que um padre bêbado. Foi ali que ele a encontrou pela primeira vez. Vestido vermelho de quem saiu de casa sem saber se queria ser vista ou esquecida. Entrou com o andar de quem já pisou em promessas demais. Sentou-se num canto, com uma cerveja quente na mão e a alma fria no peito. Ela estava em pé no ...

UMA DOSE DE PERDIÇÃO

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Uma dose de perdição Às vezes, um gole é o atalho para dentro de si. vomitado por Christian Palmer Se perder é tipo exagerar na dose de cachaça. É divertido. Um gole aqui, outro ali: tudo bem, está sob controle. Mais uma dose, por favor! O riso ecoa, verdades são cuspidas. Tudo faz sentido. Por um instante, a vida vira festa — mesmo que o som esteja ruim. Na manha seguinte,  vem a ressaca. A cabeça dói, o estômago reclama, e, enquanto cospe verdades que não sabia que guardava na privada, você começa a lembrar das escolhas da noite passada, e se vê forçado a encarar os excessos ou a falta deles. Depois, a vergonha misturada com lucidez nos faz pensar: “Nunca mais eu bebo de novo!” Mas ressaca não é mero castigo — é reflexão. É onde percebemos que, por estarmos cansados de ser quem éramos ontem, decidimos, ainda meio cambaleantes — afinal, o álcool demora a evaporar de nossas veias — buscar uma nova versão de nós mesmos. É nesse momento que a gente se reencontra. Não do mesmo ...