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Mostrando postagens de 2025

Happiness 2.0

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Happiness 2.0 vomitado por Christian Palmer (sem meias palavras, sem meias vontades) Acordei com a porra do despertador me chamando, como se fosse urgente viver. Levantei, mijei, lavei o rosto e fiz café preto, amargo, igual a mim. Vesti a primeira roupa que vi. Não sou ogro, juro — só cansei de me arrumar bonito pra dias feios. No celular, o aviso. Era folga. Aniversário. Meu. Ri. Mas sem alegria. Aquele riso de quem sacou a ironia da vida: te dão um dia livre no mesmo dia em que o peso te visita. Voltei pra cama. Dormi mal. Sonhei pior. Quando acordei de novo, o sol já era outro. Mais café. Um cigarro. Fui à janela, como sempre — meu confessionário particular. Quis pensar em algo, não veio nada. Só o silêncio chupando meus pensamentos até deixá-los ocos. O celular vibrou. Happiness piscando. Li a mensagem como quem relê bilhete antigo achado no bolso: “Sei que é seu aniversário, não vou te dar parabéns. Comprei um vinho ontem. Pensei em dividir contigo. Saio às 17h30.” Porra, quem a...

O ARTISTA QUE VENDEU O PRÓPRIO RG PARA A CAPES

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  O ARTISTA QUE VENDEU O PRÓPRIO RG PARA A CAPES vomitado por christian palmer O escritor chegou ao congresso de teoria crítica com os olhos injetados de café e tinta de caneta BIC. Nas costas, uma mochila de brim surrada, onde carregava uma garrafa de cachaça barata — metade álcool, metade lágrimas de orientando —, um exemplar de Vigiar e Punir todo rabiscado com o que parecia sangue de nariz, e um RG falsificado (o verdadeiro, ele já havia trocado por um livro do Baudrillard em 2017). O tema do evento era “Novas Epistemologias da Desgraça”. A PERFORMANCE Chamaram seu nome. Ele subiu no palco sem cerimônia e, num único gole, esvaziou a garrafa de cachaça. Pegou o microfone, encarou a plateia de pós-graduandos anêmicos e anunciou: — Isso não é embriaguez. É metodologia. Houve um suspiro coletivo, oscilando entre o êxtase e o nojo. Em seguida, sacou a caneta BIC do bolso, furou a própria veia e injetou café coado há três dias com algum segredo zoológico que o CAPES jamais ousaria r...

Balsa 171: O Naufrágio dos Esfarrapados

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  Balsa 171: O Naufrágio dos Esfarrapados (Ou: "Quando a Única Coisa que Afundou Foi a Esperança") Título original: Pau de Arara – O Titanic do Pobre Num verão tão quente que até o mar suava, a famigerada Balsa 171 zarpou do Porto de Maceió, abarrotada não só de gente, mas de sonhos remendados, contas vencidas e uma esperança que já embarcara afogada. Com pelo menos duzentas almas além do que a embarcação comportava — e nenhuma delas com passagem de volta — o destino da travessia era incerto. Ninguém sabia ao certo onde chegariam, talvez nem o próprio “capitão”, que parecia mais preocupado em encontrar o celular que deixara cair no porão do que em conduzir a balsa. O que deveria ser uma travessia de 40 minutos virou uma epopeia tragicômica. O motor, cansado de tentar, entregou os pontos com dignidade nenhuma. A água começou a entrar lentamente, mas — como manda o roteiro — só do lado dos pobres. Do outro, onde teoricamente estariam os privilegiados, havia apenas sacolas de fe...

Performance no Sarau (Ou: Como Dei Um Tiro no Pé e Ganhei Uma Bolsa de Artes)

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Performance no Sarau (Ou: Como Dei Um Tiro no Pé e Ganhei Uma Bolsa de Artes) vomitado por Christian Palmer O sarau estava uma bosta. Poetas recitavam versos sobre "o vazio da alma pós-moderna" enquanto tomavam chá de camomila. Um cara de coque samurai declamava odes ao amor líquido, e o público batia palmas como se estivesse em um culto. Foi então que ele entrou.  Pernas trêmulas, barba por fazer, espingarda a tiracolo, e um sorriso de quem já tinha enfiado a língua na boca do diabo. — Deixem dessa merda. Querem poesia de verdade? — gritou apontando a espingarda para o pé — Então tomem — atirou!   PAF! O poeta do coque samurai engasgou no chá. — Mas que diab— Sangue jorrou no palco de madeira. Ninguém aplaudiu. Ninguém fugiu. Todos só olhavam, envergonhados de ainda estarem vivos. — ISSO, — ele gritou, mancando em círculos — É ARTE CONTEMPORÂNEA, SEUS MERDAS! PLATEIA EXTASIADA!!!!! Uma hipster de óculos redondos começou a filmar no iPhone: — Isso é um comentário visceral...

A Arquivista Indesejada

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  A Arquivista Indesejada vomitado por christian palmer Era uma vez um grupo de zap chamado "Arquivistas Anônimos" — que, na realidade, não tinha nada a ver com arquivologia. Era só um bando de amigos que, por algum capricho do destino, tinham diplomas em arquivologia e nenhuma vontade de falar sobre isso. O grupo era sagrado: memes duvidosos, fofoca alheia, áudios de três minutos que ninguém ouvia até o fim. Um equilíbrio perfeito. Até que, um dia, ela chegou. Uma arquivista de verdade. Uma mulher que acreditava piamente que "Arquivistas Anônimos" era um espaço de debates acadêmicos, troca de referências bibliográficas e discussões emocionantes sobre a normatização de pastas suspensas. Ela entrou no grupo com um sonoro: — Boa tarde, colegas! Gostaria de compartilhar um artigo fascinante sobre a gestão documental no século XIX! O silêncio no grupo foi tão pesado que até o Wi-Fi travou. Os cinco amigos arquivistas (mas não arquivistas de coração) se olharam através d...

Trepei com o absurdo: ou Camus feat Bukowski

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  Trepei com o absurdo: ou Camus feat Bukowski vomitado por Christian Palmer O relógio marcava 3h08 da madrugada — nem noite, nem dia, só o horário em que os bares desistiram de você, todos. Queria fumar, mas só encontrou uma barata. Matou com a mão mesmo. Meursault era tido como um homem frio — era o vazio por decreto próprio. Um estrangeiro sem pátria, um imigrante até dentro de si. O sol queimava, as pessoas falavam, os dias passavam, e ele assistia a tudo como quem olha pela janela de um trem em movimento: interessado o suficiente para não pular, mas nunca o bastante para descer. Então, ouviu uma voz gritar. A porta abriu antes dele responder. Era ela: Cass. Uma mulher bela como um tsunami de álcool e ódio — intensa, indesejada e autodestrutiva. Odiava a sua beleza, pois sabia: era a única coisa que os idiotas viam nela. Os olhos dela tinham o poder de devorar almas e cuspia veneno com a língua. Ela não transava, não fazia amor — fazia autópsia. Nunca encontrava, mas não desist...

Ato 3: Ao menos eu a Vivi: Fim?

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  Ato 1 - clique aqui Ato 2 - clique aqui Ato 3: Ao menos eu a Vivi. Fim? vomitado por Christian Palmer João Pessoa, PB - 23h13, Quinta-feira. Sabia que Vivi costuma ir ao Bar do Rato Cego às quintas depois das 23h00. Resolveu ir até o bar, encontrá-la e dizer que foi por acaso. A noite estava quente - igual ao sexo dela. Foi andando. Nenhum motorista aceitou a corrida — reza a lenda que o bar foi construído sobre sonhos ruins, isso os assombrava. Chegou ao bar suado. Vestido de saudade dela. Queria se iludir novamente. Fazia tempo que não ia lá. Mas há tempos fantasiava Vivi ali, pedindo uma dose da cachaça mais barata. Fumando um cigarro de cravo e menta. Contando uma história que ninguém acreditaria, se não fosse pelas cicatrizes que carregava. Entrou devagar. Como se fosse possível entrar devagar num lugar que já era todo silêncio e penumbra. O dono estava lá — cabelos mais ralos, cara de quem já sabia tudo. — Tá procurando alguém? — perguntou, sem pressa. Ele hesitou. Achou qu...

Ato 2: Vivi — nome ou aviso?

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  Ato 2: Vivi — nome ou aviso? vomitado por Christian Palmer Ela tava ali, sentada na beirada do meu colchão — manchado de café e sonhos idiotas. Vivi — aquela mesma do Bar do Rato Cego — ainda não sei se é o nome dela ou um aviso. Tinha os olhos de quem apagava os cigarros no próprio peito só pra ter certeza de que ainda sentia algo. "Você me ama?" — quem pergunta isso no segundo encontro? "Não" ,  eu respondi. Com medo de ser verdade. Droga… é só o segundo encontro mesmo? Ela riu. Uma risada cuspida da alma — daquelas que não duram, mas deixam eco. Vivi era um incêndio que fazia aulas de ballet. Me contou que já arrancou o próprio dente com um alicate . "Por amor?" perguntei. "Por tédio", ela disse. Durante nossa trepada, me senti um piromaníaco tentando apagar uma fogueira com gasolina. Foi sublime. No fim, ela levou minha camisa, tomou o resto do café — amargo...

O Filtro de Barro

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  O Filtro de Barro vomitado por christian palmer, inspirado em Michel Melamed Me apaixonei: foi sujo, rápido e sem aviso — tipo deslizamento de terra. Menos de 23 dias depois, casamos. Um com roupa velha de brechó, o outro com camisa cheirando a fumaça e desilusões. Alugamos um AP no Santos Dumont, em Maceió. Terra que queima sola de chinelo - igual a gente queimando etapas. Na época, eu tava tão louco de amor que queria dar um presente que dissesse tudo — mas sem ser demodê. Nada de buquê, bombom ou aliança. Eu queria algo que fosse só nosso. Numa ida à feira, voltando sozinho, passei na frente de uma bodega. E o vi. Marrom, parrudo, alma de vó: um filtro de barro. Pensei: — Cara, é isso. Fazia todo o sentido. A gente vivia falando sobre querer algo puro, verdadeiro. Tudo era rápido demais. Plástico demais. Sede demais. Eu queria ser o contrário disso. Queria ser o gole que acalma o corpo. Que lava o sal das lágrimas sem que ninguém veja. Comprei. Nem pedi pra embal...