Se atirarmos uma flecha, ela seguirá em frente até perder força e
cair, certo!? Ela nunca retornará ao arco novamente, assim é o mundo -
refém do tempo. E o tempo segue religiosamente o seu "lema": sempre reto
e avante. Igualmente a flecha atirada é a vida, sim, definitivamente a vida é uma
flecha atirada. Tomamos decisões e sofremos com as consequências dela, nunca
podemos voltar e escolher outra. Por isso, há quem diga que diante das escolhas
o melhor é não escolher, porque assim manteremos todas as possibilidades, mas
será que isso é viver? E o que seria viver? Fazer escolhas? Não fazê-las? Se
bem que, não fazer escolhas é uma escolha que nós tomamos, não? E se pudéssemos
calcular o que aconteceria se tomarmos determinada decisão? Seria possível?
Como diria o poeta, "são tantas perguntas que
atropelam minha vontade de raciocinar...". No entanto, não pensar é um
problema maior ainda. Portanto, pensemos, então!
Vocês conhecem uma banda americana chamada: "Eels"? O vocalista dela, Mark Oliver Everett, vulgo "Mr. E", é filho do físico, Hugh Everett, que desenvolveu uma teoria física conhecida como
"Teoria dos Muitos Mundos", já ouviram falar nela? Essa teoria sugere
que há um mundo paralelo para cada escolha que podemos tomar em todos os
problemas que nos deparamos. Alguém te pede em namoro, por exemplo, nesse caso,
a princípio, temos dois universos possíveis, um em que você aceitou e outro em
que você negou o pedido. Aqui é onde Everett pai diz que o mundo se
"divide", ou seja, haverá um mundo para cada uma dessas
possibilidades, e eles serão independentes uns dos outros. Então, segundo a
Teoria dos Muitos Mundos, temos uma infinidade de mundos paralelos ao nosso.
Legal, não!? Sabe aquela dúvida: "se existisse um máquina do tempo, eu
voltaria e faria diferente, mudaria o mundo". Pois bem, segundo essa
teoria, ao se alterar um fato histórico, não se alteraria em nada o mundo em
que se vive, apenas se criaria um novo mundo, no qual o fato tivesse acontecido
de forma diferente, da forma que se alterou ao se viajar no tempo.
Enfim, mas qual o motivo de eu estar falando sobre isso? Como sempre um
filme: "Mr. Nobody". Mr. Nobody é um filme que se passa numa época
em que as pessoas conseguiram a imortalidade, porém ainda há UM ÚNICO mortal
vivo - o senhor Nemo Nobody - que quando está prestes a morrer recorda-se de toda
a sua vida - penso que o correto seria dizer de todas as suas vidas. O filme brinca com a ideia de se viver todas as
possibilidades possíveis, com uma grande diferença: recordar-se de cada uma
delas, o que segundo Everett e sua teoria, não seria possível. E daí se não o
é!? É ficção. E sonhar é necessário, sem falar que é incrível a ideia de poder
calcular os efeitos de nossas decisões, viver cada uma delas e depois escolher
a que melhor nos convier. Eu queria, eu super queria. O que eu não iria querer é
ser o último a ser, ou a ter algo. Penso que o fardo de ser a última tartaruga
gigante de Galápagos, não é tão legal assim. Saber que sua morte
representa o fim de toda uma espécie. Não acho isso agradável. Pois bem, que eu
seja o penúltimo, então!
Por fim, eu diria que "Mr.
Nobody" é um filme que alimenta essa nossa vontade de querer e poder assistir
o que acontece conosco nos outros mundos - mesmo sem nunca termos ouvido falar na Teoria
dos Muitos Mundos. E, então, sermos capazes de escolher aquele que
nos agrada mais e poder vivê-lo.
Até porque, como diria o poeta/sociólogo em seu blog, nada importa se não
tivermos "a companhia
do que poderia ter sido". Todavia, se "o que foi" foi do
jeito que queríamos que fosse, isso nos servirá de alento em nosso momento
derradeiro. Caso contrário, partiremos tendo em mente aquilo "que poderia
ter sido". E o que poderia ter sido?