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Trepei com o absurdo: ou Camus feat Bukowski

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  Trepei com o absurdo: ou Camus feat Bukowski vomitado por Christian Palmer O relógio marcava 3h08 da madrugada — nem noite, nem dia, só o horário em que os bares desistiram de você, todos. Queria fumar, mas só encontrou uma barata. Matou com a mão mesmo. Meursault era tido como um homem frio — era o vazio por decreto próprio. Um estrangeiro sem pátria, um imigrante até dentro de si. O sol queimava, as pessoas falavam, os dias passavam, e ele assistia a tudo como quem olha pela janela de um trem em movimento: interessado o suficiente para não pular, mas nunca o bastante para descer. Então, ouviu uma voz gritar. A porta abriu antes dele responder. Era ela: Cass. Uma mulher bela como um tsunami de álcool e ódio — intensa, indesejada e autodestrutiva. Odiava a sua beleza, pois sabia: era a única coisa que os idiotas viam nela. Os olhos dela tinham o poder de devorar almas e cuspia veneno com a língua. Ela não transava, não fazia amor — fazia autópsia. Nunca encontrava, mas não desist...

Ato 3: Ao menos eu a Vivi: Fim?

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  Ato 1 - clique aqui Ato 2 - clique aqui Ato 3: Ao menos eu a Vivi. Fim? vomitado por Christian Palmer João Pessoa, PB - 23h13, Quinta-feira. Sabia que Vivi costuma ir ao Bar do Rato Cego às quintas depois das 23h00. Resolveu ir até o bar, encontrá-la e dizer que foi por acaso. A noite estava quente - igual ao sexo dela. Foi andando. Nenhum motorista aceitou a corrida — reza a lenda que o bar foi construído sobre sonhos ruins, isso os assombrava. Chegou ao bar suado. Vestido de saudade dela. Queria se iludir novamente. Fazia tempo que não ia lá. Mas há tempos fantasiava Vivi ali, pedindo uma dose da cachaça mais barata. Fumando um cigarro de cravo e menta. Contando uma história que ninguém acreditaria, se não fosse pelas cicatrizes que carregava. Entrou devagar. Como se fosse possível entrar devagar num lugar que já era todo silêncio e penumbra. O dono estava lá — cabelos mais ralos, cara de quem já sabia tudo. — Tá procurando alguém? — perguntou, sem pressa. Ele hesitou. Achou qu...

Ato 2: Vivi — nome ou aviso?

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  Ato 2: Vivi — nome ou aviso? vomitado por Christian Palmer Ela tava ali, sentada na beirada do meu colchão — manchado de café e sonhos idiotas. Vivi — aquela mesma do Bar do Rato Cego — ainda não sei se é o nome dela ou um aviso. Tinha os olhos de quem apagava os cigarros no próprio peito só pra ter certeza de que ainda sentia algo. "Você me ama?" — quem pergunta isso no segundo encontro? "Não" ,  eu respondi. Com medo de ser verdade. Droga… é só o segundo encontro mesmo? Ela riu. Uma risada cuspida da alma — daquelas que não duram, mas deixam eco. Vivi era um incêndio que fazia aulas de ballet. Me contou que já arrancou o próprio dente com um alicate . "Por amor?" perguntei. "Por tédio", ela disse. Durante nossa trepada, me senti um piromaníaco tentando apagar uma fogueira com gasolina. Foi sublime. No fim, ela levou minha camisa, tomou o resto do café — amargo...

O Filtro de Barro

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  O Filtro de Barro vomitado por christian palmer, inspirado em Michel Melamed Me apaixonei: foi sujo, rápido e sem aviso — tipo deslizamento de terra. Menos de 23 dias depois, casamos. Um com roupa velha de brechó, o outro com camisa cheirando a fumaça e desilusões. Alugamos um AP no Santos Dumont, em Maceió. Terra que queima sola de chinelo - igual a gente queimando etapas. Na época, eu tava tão louco de amor que queria dar um presente que dissesse tudo — mas sem ser demodê. Nada de buquê, bombom ou aliança. Eu queria algo que fosse só nosso. Numa ida à feira, voltando sozinho, passei na frente de uma bodega. E o vi. Marrom, parrudo, alma de vó: um filtro de barro. Pensei: — Cara, é isso. Fazia todo o sentido. A gente vivia falando sobre querer algo puro, verdadeiro. Tudo era rápido demais. Plástico demais. Sede demais. Eu queria ser o contrário disso. Queria ser o gole que acalma o corpo. Que lava o sal das lágrimas sem que ninguém veja. Comprei. Nem pedi pra embal...

Ato 1: No Bar do Rato Cego — Vivi

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Ato 1: No Bar do Rato Cego — Vivi                                                            vomitado por christian palmer "Ela não era bonita. Era pior. Era do tipo que você bebe devagar só pra não correr o risco de ela ir embora." Chovia fino em João Pessoa. Ele chovia grosso de cansaço da vida. Naquela terça sem cor, foi para onde sempre acaba indo quando o mundo o empurra pelas beiradas: o Bar do Rato Cego, em Mandacaru. Sem placa, sem moral, sem futuro. Só uma vitrola quebrada, garrafas suadas e paredes que já ouviram mais confissões do que um padre bêbado. Foi ali que ele a encontrou pela primeira vez. Vestido vermelho de quem saiu de casa sem saber se queria ser vista ou esquecida. Entrou com o andar de quem já pisou em promessas demais. Sentou-se num canto, com uma cerveja quente na mão e a alma fria no peito. Ela estava em pé no ...

UMA DOSE DE PERDIÇÃO

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Uma dose de perdição Às vezes, um gole é o atalho para dentro de si. vomitado por Christian Palmer Se perder é tipo exagerar na dose de cachaça. É divertido. Um gole aqui, outro ali: tudo bem, está sob controle. Mais uma dose, por favor! O riso ecoa, verdades são cuspidas. Tudo faz sentido. Por um instante, a vida vira festa — mesmo que o som esteja ruim. Na manha seguinte,  vem a ressaca. A cabeça dói, o estômago reclama, e, enquanto cospe verdades que não sabia que guardava na privada, você começa a lembrar das escolhas da noite passada, e se vê forçado a encarar os excessos ou a falta deles. Depois, a vergonha misturada com lucidez nos faz pensar: “Nunca mais eu bebo de novo!” Mas ressaca não é mero castigo — é reflexão. É onde percebemos que, por estarmos cansados de ser quem éramos ontem, decidimos, ainda meio cambaleantes — afinal, o álcool demora a evaporar de nossas veias — buscar uma nova versão de nós mesmos. É nesse momento que a gente se reencontra. Não do mesmo ...

dois olhares

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vomitado por christian palmer Finalmente a sexta chegou. Queria sair. Saiu. Ao chegar, estagnou-se — vasculhava o lugar com os olhos. Olhos que diziam: quero dançar. E lá no fundo, um olhar de resposta: quero beijar você. Dançaram. Beijaram-se ao som de Qui Nem Jiló . Afinal, era noite de São João.

O amor basta?

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O amor basta? vomitado por christian palmer Era noite. Era uma terça. O céu chorava. Tinha frio. Ouvia Adele. Tudo quase exatamente igual aquela noite de agosto. Na qual também sentia frio, numa noite chuvosa de terça-feira, ouvindo as músicas de Adele. "Tá faltando uma coisa para que tudo fique igual" - pensou. E nesse mesmo instante o celular vibra. Uma mensagem: “Tô pensando em você!” Um sorriso apareceu no rosto dele. E em voz alta, pensou: “agora sim, tudo exatamente igual àquela noite de agosto” . Onde tudo tinha começado. O começo de seu último amor. Pegou o celular e digitou a resposta: “Também tava pensando em você. Tava pensado como a noite hoje está exatamente igual aquela em que ficamos pela primeira vez!” [PAUSE] Quando ainda não tinha experienciado o amor, achava que quando acontecesse, o amor, nada mais importaria, tudo se resolveria. A solução para tudo era o amor, acreditava. Hoje, considera que tenha amado 3 vezes. Não saberia dizer qual d...

O perfume da Avon tem o cheiro de quem ama - mentira!

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O perfume da Avon tem o cheiro de quem ama - mentira! vomitado por christian palmer Tinha acordado decidida. Resolveu: – pegar o celular e apagar os amores – passados, novos e futuros; – destruir as roupas que não cabiam mais, mas que guardava na esperança de um dia pôde-las usar novamente; – sair da academia, afinal, tinha destruído as roupas que um dia couberam nela; – abrir mão de verdades excruciantes. Agora, com quase 30 anos, ela se deu conta de que a vida é um copo de plástico furado e desejava apenas poder encher esse copo com mentiras consoladoras e luzes apagadas – mesmo sabendo que o furo a condenava. Pegou novamente o celular, dessa vez para ligar para alguém que pudesse lhe acalentar com uma mentira durante a noite. Quando a noite chegou, deitou-se nos braços da mentira, olhou profundamente naquele olhar dissimulado e falou: – Posso te pedir uma coisa? – Só se for uma mentira. – Sendo assim, diz que me ama? A mentira consentiu, sorrindo. – Eu amo voc...

3:45 AM

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vomitado por christian palmer O relógio em cima da cômoda do quarto marcava 3:45 da madrugada. Sabia que seria uma daquelas noites que só pegaria no sono ao nascer do sol. Levantou-se, foi até a cozinha e preparou um chá de camomila, aquilo o tranquilizava, ajudava a limpar a mente - mas não dessa vez. Deitou-se no sofá, ligou a televisão, não para assistir, pela companhia apenas. Abriu a janela e apreciou o vento que fazia balançar a árvore que mora em sua ventana (uma Léia Verde, uma coccinea, da família das uvas utilizadas para fazer vinho). Aos poucos fora bebendo o chá, e cada gole que tomava revisitava uma antiga memória.  Deu um gole no chá:  olhou a mesa vazia, onde outrora fizera um jantar à luz de velas, ao lado de uma companhia agradável, sorriu.  Quão brega eu consigo ser, era engraçado ser brega - pensou! Outro gole daquele chá mágico: percebeu que a bexiga tava cheia, foi ao banheiro, e admirando aquele micro boxe ficou imaginan...

Coisa de Preta

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vomitado por Daniela Verena Sob nossa pele o mesmo vermelho. Em cada camada Os mesmos vasos e fluxos. Talvez não tenhamos a mesma sensibilidade, Mas o mesmo princípio de sentir Quase todos os estímulos E suas possibilidades. Entre nossa pele, no entanto, Diferentes laços, causos, Dores e privilégios. Somos tão iguais quanto diferentes. Aos olhos de quem vê Somos só pele E o valor que ela carrega. Aos olhos de quem julga O seu vermelho É azul. #sobreserpreto   #blecauteterca   #pretoforaterca

Happiness

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Happiness vomitado por christian palmer Acordou cedo para ir ao trabalho, como de costume. Tomou banho, fez o café, se vestiu e saiu. Ao entrar no elevador, pegou o celular para olhar as horas. Nesse momento, se dá conta que é o aniversário dela, está liberada do trabalho. Fica feliz, não pela data, mas por poder voltar para cama, queria muito voltar a dormir. Ao acordar, após ter ido para cama novamente, repara no apartamento onde vive. Há tempos o tem achado grande demais para quem vive só, dá muito trabalho arrumá-lo. Porém gosta dele, sempre teve vontade de morar no alto de um prédio grande, sentia como se vivesse um sonho. Prepara outro café e vai à varanda. Admirando a vista dali de cima lembra-se de um poema de João Cabral: Meus olhos têm telescópios espiando a rua, espiando a minha alma longe de mim mil metros Nunca foi de comemorar aniversário, não gosta. Acha deprimente. Na verdade, não gosta nem que lhe deem os parabéns. Todos os amigos sabem disso, e...

Morada

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Morada vomitado por christian palmer Aquele ano estava sendo pesado para ela, sentia como se morasse do lado de fora de um abraço, aquilo lhe doía. O aniversário dela se aproximava, achava injusto ter que envelhecer um ano que não viveu. O fardo das responsabilidades era demais. Quando criança dizia a todos que um dia seria doutora. Hoje, em meio ao doutorado, arrepende-se de um dia tê-lo desejado, apesar de está estudando o que ama: as plantas.  Para espairecer, às sexta costumava ir ao bar que ficava no meio do caminho entre a Universidade e a casa dela. Naquela sexta, mesmo estando mais cansada que o habitual, decidiu encontrar os amigos naquele bar, precisava beber um pouco. Ao fundo tocava Pearl Jam, lembrou-se do amigo que mora a 400km de distância, sempre que ouvia Pearl Jam, ele vinha a sua mente. Ao longe, avista os amigos numa mesa encostada à parede lateral e foi ao encontro deles. Permaneceu no bar por algumas poucas horas.  A maior parte d...

Um amor de chuva

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Um amor de chuva vomitado por christian palmer Tenho a impressão de que todas as vezes que nos encontrávamos, chovia. Parecia até que os deuses estavam nos presenteando, pois adorávamos o frio. Na verdade, era um pretexto para que pudéssemos nos abraçar. As mãos mais geladas que um dia tocaram minha pele. Mesmo geladas, elas me aqueciam com um calor inexplicável. Não conseguia entender como algo tão frio poderia ser fonte daquele tanto de ardor. Contudo, naquela sexta-feira de junho — não me recordo o ano — nos encontramos e, para nossa surpresa: a chuva não caía. Os deuses nos testavam: como nos comportaríamos num dia de calor? Aquilo era novo pra gente, porém nos portamos exatamente igual, com o mesmo tanto de abraços e beijos; com aquelas mãos gélidas e incontroláveis, as mesmas que me aqueciam. Fomos a um bar no centro da cidade. O visual rústico daquele lugar nos impressionou bastante. Ao fundo tocava Florence, um ponto em comum nos nossos gostos musicais. Parecia que algué...