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Ato 2: Vivi — nome ou aviso?

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  Ato 2: Vivi — nome ou aviso? vomitado por Christian Palmer Ela tava ali, sentada na beirada do meu colchão — manchado de café e sonhos idiotas. Vivi — aquela mesma do Bar do Rato Cego — ainda não sei se é o nome dela ou um aviso. Tinha os olhos de quem apagava os cigarros no próprio peito só pra ter certeza de que ainda sentia algo. "Você me ama?" — quem pergunta isso no segundo encontro? "Não" ,  eu respondi. Com medo de ser verdade. Droga… é só o segundo encontro mesmo? Ela riu. Uma risada cuspida da alma — daquelas que não duram, mas deixam eco. Vivi era um incêndio que fazia aulas de ballet. Me contou que já arrancou o próprio dente com um alicate . "Por amor?" perguntei. "Por tédio", ela disse. Durante nossa trepada, me senti um piromaníaco tentando apagar uma fogueira com gasolina. Foi sublime. No fim, ela levou minha camisa, tomou o resto do café — amargo...

O Filtro de Barro

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  O Filtro de Barro vomitado por christian palmer, inspirado em Michel Melamed Me apaixonei: foi sujo, rápido e sem aviso — tipo deslizamento de terra. Menos de 23 dias depois, casamos. Um com roupa velha de brechó, o outro com camisa cheirando a fumaça e desilusões. Alugamos um AP no Santos Dumont, em Maceió. Terra que queima sola de chinelo - igual a gente queimando etapas. Na época, eu tava tão louco de amor que queria dar um presente que dissesse tudo — mas sem ser demodê. Nada de buquê, bombom ou aliança. Eu queria algo que fosse só nosso. Numa ida à feira, voltando sozinho, passei na frente de uma bodega. E o vi. Marrom, parrudo, alma de vó: um filtro de barro. Pensei: — Cara, é isso. Fazia todo o sentido. A gente vivia falando sobre querer algo puro, verdadeiro. Tudo era rápido demais. Plástico demais. Sede demais. Eu queria ser o contrário disso. Queria ser o gole que acalma o corpo. Que lava o sal das lágrimas sem que ninguém veja. Comprei. Nem pedi pra embal...

Ato 1: No Bar do Rato Cego — Vivi

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Ato 1: No Bar do Rato Cego — Vivi                                                            vomitado por christian palmer "Ela não era bonita. Era pior. Era do tipo que você bebe devagar só pra não correr o risco de ela ir embora." Chovia fino em João Pessoa. Ele chovia grosso de cansaço da vida. Naquela terça sem cor, foi para onde sempre acaba indo quando o mundo o empurra pelas beiradas: o Bar do Rato Cego, em Mandacaru. Sem placa, sem moral, sem futuro. Só uma vitrola quebrada, garrafas suadas e paredes que já ouviram mais confissões do que um padre bêbado. Foi ali que ele a encontrou pela primeira vez. Vestido vermelho de quem saiu de casa sem saber se queria ser vista ou esquecida. Entrou com o andar de quem já pisou em promessas demais. Sentou-se num canto, com uma cerveja quente na mão e a alma fria no peito. Ela estava em pé no ...

UMA DOSE DE PERDIÇÃO

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Uma dose de perdição Às vezes, um gole é o atalho para dentro de si. vomitado por Christian Palmer Se perder é tipo exagerar na dose de cachaça. É divertido. Um gole aqui, outro ali: tudo bem, está sob controle. Mais uma dose, por favor! O riso ecoa, verdades são cuspidas. Tudo faz sentido. Por um instante, a vida vira festa — mesmo que o som esteja ruim. Na manha seguinte,  vem a ressaca. A cabeça dói, o estômago reclama, e, enquanto cospe verdades que não sabia que guardava na privada, você começa a lembrar das escolhas da noite passada, e se vê forçado a encarar os excessos ou a falta deles. Depois, a vergonha misturada com lucidez nos faz pensar: “Nunca mais eu bebo de novo!” Mas ressaca não é mero castigo — é reflexão. É onde percebemos que, por estarmos cansados de ser quem éramos ontem, decidimos, ainda meio cambaleantes — afinal, o álcool demora a evaporar de nossas veias — buscar uma nova versão de nós mesmos. É nesse momento que a gente se reencontra. Não do mesmo ...

dois olhares

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vomitado por christian palmer Finalmente a sexta chegou. Queria sair. Saiu. Ao chegar, estagnou-se — vasculhava o lugar com os olhos. Olhos que diziam: quero dançar. E lá no fundo, um olhar de resposta: quero beijar você. Dançaram. Beijaram-se ao som de Qui Nem Jiló . Afinal, era noite de São João.

O amor basta?

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O amor basta? vomitado por christian palmer Era noite. Era uma terça. O céu chorava. Tinha frio. Ouvia Adele. Tudo quase exatamente igual aquela noite de agosto. Na qual também sentia frio, numa noite chuvosa de terça-feira, ouvindo as músicas de Adele. "Tá faltando uma coisa para que tudo fique igual" - pensou. E nesse mesmo instante o celular vibra. Uma mensagem: “Tô pensando em você!” Um sorriso apareceu no rosto dele. E em voz alta, pensou: “agora sim, tudo exatamente igual àquela noite de agosto” . Onde tudo tinha começado. O começo de seu último amor. Pegou o celular e digitou a resposta: “Também tava pensando em você. Tava pensado como a noite hoje está exatamente igual aquela em que ficamos pela primeira vez!” [PAUSE] Quando ainda não tinha experienciado o amor, achava que quando acontecesse, o amor, nada mais importaria, tudo se resolveria. A solução para tudo era o amor, acreditava. Hoje, considera que tenha amado 3 vezes. Não saberia dizer qual d...

O perfume da Avon tem o cheiro de quem ama - mentira!

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O perfume da Avon tem o cheiro de quem ama - mentira! vomitado por christian palmer Tinha acordado decidida. Resolveu: – pegar o celular e apagar os amores – passados, novos e futuros; – destruir as roupas que não cabiam mais, mas que guardava na esperança de um dia pôde-las usar novamente; – sair da academia, afinal, tinha destruído as roupas que um dia couberam nela; – abrir mão de verdades excruciantes. Agora, com quase 30 anos, ela se deu conta de que a vida é um copo de plástico furado e desejava apenas poder encher esse copo com mentiras consoladoras e luzes apagadas – mesmo sabendo que o furo a condenava. Pegou novamente o celular, dessa vez para ligar para alguém que pudesse lhe acalentar com uma mentira durante a noite. Quando a noite chegou, deitou-se nos braços da mentira, olhou profundamente naquele olhar dissimulado e falou: – Posso te pedir uma coisa? – Só se for uma mentira. – Sendo assim, diz que me ama? A mentira consentiu, sorrindo. – Eu amo voc...

3:45 AM

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vomitado por christian palmer O relógio em cima da cômoda do quarto marcava 3:45 da madrugada. Sabia que seria uma daquelas noites que só pegaria no sono ao nascer do sol. Levantou-se, foi até a cozinha e preparou um chá de camomila, aquilo o tranquilizava, ajudava a limpar a mente - mas não dessa vez. Deitou-se no sofá, ligou a televisão, não para assistir, pela companhia apenas. Abriu a janela e apreciou o vento que fazia balançar a árvore que mora em sua ventana (uma Léia Verde, uma coccinea, da família das uvas utilizadas para fazer vinho). Aos poucos fora bebendo o chá, e cada gole que tomava revisitava uma antiga memória.  Deu um gole no chá:  olhou a mesa vazia, onde outrora fizera um jantar à luz de velas, ao lado de uma companhia agradável, sorriu.  Quão brega eu consigo ser, era engraçado ser brega - pensou! Outro gole daquele chá mágico: percebeu que a bexiga tava cheia, foi ao banheiro, e admirando aquele micro boxe ficou imaginan...

Coisa de Preta

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vomitado por Daniela Verena Sob nossa pele o mesmo vermelho. Em cada camada Os mesmos vasos e fluxos. Talvez não tenhamos a mesma sensibilidade, Mas o mesmo princípio de sentir Quase todos os estímulos E suas possibilidades. Entre nossa pele, no entanto, Diferentes laços, causos, Dores e privilégios. Somos tão iguais quanto diferentes. Aos olhos de quem vê Somos só pele E o valor que ela carrega. Aos olhos de quem julga O seu vermelho É azul. #sobreserpreto   #blecauteterca   #pretoforaterca

Happiness

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Happiness vomitado por christian palmer Acordou cedo para ir ao trabalho, como de costume. Tomou banho, fez o café, se vestiu e saiu. Ao entrar no elevador, pegou o celular para olhar as horas. Nesse momento, se dá conta que é o aniversário dela, está liberada do trabalho. Fica feliz, não pela data, mas por poder voltar para cama, queria muito voltar a dormir. Ao acordar, após ter ido para cama novamente, repara no apartamento onde vive. Há tempos o tem achado grande demais para quem vive só, dá muito trabalho arrumá-lo. Porém gosta dele, sempre teve vontade de morar no alto de um prédio grande, sentia como se vivesse um sonho. Prepara outro café e vai à varanda. Admirando a vista dali de cima lembra-se de um poema de João Cabral: Meus olhos têm telescópios espiando a rua, espiando a minha alma longe de mim mil metros Nunca foi de comemorar aniversário, não gosta. Acha deprimente. Na verdade, não gosta nem que lhe deem os parabéns. Todos os amigos sabem disso, e...

Morada

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Morada vomitado por christian palmer Aquele ano estava sendo pesado para ela, sentia como se morasse do lado de fora de um abraço, aquilo lhe doía. O aniversário dela se aproximava, achava injusto ter que envelhecer um ano que não viveu. O fardo das responsabilidades era demais. Quando criança dizia a todos que um dia seria doutora. Hoje, em meio ao doutorado, arrepende-se de um dia tê-lo desejado, apesar de está estudando o que ama: as plantas.  Para espairecer, às sexta costumava ir ao bar que ficava no meio do caminho entre a Universidade e a casa dela. Naquela sexta, mesmo estando mais cansada que o habitual, decidiu encontrar os amigos naquele bar, precisava beber um pouco. Ao fundo tocava Pearl Jam, lembrou-se do amigo que mora a 400km de distância, sempre que ouvia Pearl Jam, ele vinha a sua mente. Ao longe, avista os amigos numa mesa encostada à parede lateral e foi ao encontro deles. Permaneceu no bar por algumas poucas horas.  A maior parte d...

Um amor de chuva

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Um amor de chuva vomitado por christian palmer Tenho a impressão de que todas as vezes que nos encontrávamos, chovia. Parecia até que os deuses estavam nos presenteando, pois adorávamos o frio. Na verdade, era um pretexto para que pudéssemos nos abraçar. As mãos mais geladas que um dia tocaram minha pele. Mesmo geladas, elas me aqueciam com um calor inexplicável. Não conseguia entender como algo tão frio poderia ser fonte daquele tanto de ardor. Contudo, naquela sexta-feira de junho — não me recordo o ano — nos encontramos e, para nossa surpresa: a chuva não caía. Os deuses nos testavam: como nos comportaríamos num dia de calor? Aquilo era novo pra gente, porém nos portamos exatamente igual, com o mesmo tanto de abraços e beijos; com aquelas mãos gélidas e incontroláveis, as mesmas que me aqueciam. Fomos a um bar no centro da cidade. O visual rústico daquele lugar nos impressionou bastante. Ao fundo tocava Florence, um ponto em comum nos nossos gostos musicais. Parecia que algué...

Dominical

Vomitado por Christian Palmer Ao abrir os olhos percebeu a escuridão que ainda habitava o quarto. Pensou ser de madrugada, como estava com sono, resolveu voltar a dormir. Algum tempo depois, tornou a abrir os olhos e a escuridão lá permanecia. Teve vontade de ir ao banheiro e fome: assim, mesmo sendo de madrugada, resolveu levantar-se. Foi ao banheiro, preparou o seu café com canela e fritou uns ovos como de costume. Passado algum tempo percebeu que até então não tinha olhado a hora, mas lhe parecia ser umas 8 da manhã. O que na verdade não importava, fazia uns 3 meses ou mais (talvez menos um pouco) que as horas não eram relevantes. Contudo, tinha o hábito de fazer apostas consigo mesmo. - Se eu tiver acertado a hora, não irei lavar a louça agora, do contrário lavarei!!! Então, pegou o celular e se surpreendeu... - 13h30??? Como assim? Quantos horas eu dormi? - indagou-se em vão! Não conseguia lembrar que horas tinha ido para cama, tampouco quanto tempo levou para pega...

Paisagem da janela!

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Paisagem da janela! vomitado por christian palmer O sofá era pequeno, mal cabiam ali. Mesmo assim, não havia reduto melhor naquela casa. Passavam horas lá, deitados um nos braços do outro. A TV ligada ao lado, completamente ignorada por eles, servia-lhes apenas como iluminação, pois apesar de gostarem do escuro, não queriam o breu total. Queriam se ver minimamente, admirar o outro, ter certeza que os braços que lhes abraçavam pertenciam a pessoa certa. A janela... ah, a janela! Esta sim era a verdadeira TV, principalmente em noites de lua cheia. Não havia filme, novela ou série mais bela e/ou empolgante do que ver e ser visto pela lua. Ali, só os dois e o silêncio da TV sem som. Admiravam-na, a lua, enquanto ela estava visível. E como bons amantes que eram, amavam-se longamente. Por vezes, os versos de Os Paralamas do Sucesso ecoavam no pensamento deles: "Tendo a lua aquela gravidade  aonde o homem flutua.  Merecia a visita não de militares,  mas de bailarinos e...

Alvorecer

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vomitado por christian palmer A chuva que veio do nada, persiste em cair Sinto o cheiro dela misturado ao cheiro do café, será o vizinho de cima? Isso me deixa incomodado, esse cheiro, não o da chuva, o do café que não posso beber Minha garrafa está vazia, e o frio me impede de levantar e preparar mais. O vidro na janela está a soar, são os pingos da chuva que ainda continua a cair. Sono, cade você? Não dá para viver sem você. Que falta fazes. Gostaria tanto de ter aqui, porque me abandonastes? Desejo sonhar com o cheiro do café, não o do vizinho de cima. Você não vem, não está mais aqui. Fico, então, a pensar na falta das coisas que não tenho mais Sinto a falta das músicas, falta do sofá, falta do calor... a falta do café Tudo isso porque você me falta, sono! Acho que você tá chegando, logo agora que gostaria de ver o alvorecer, miserável!

AMOR?

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AMOR? vomitado por Christian Palmer Ah!! e o amor? Acho que o amor reside em um conjunto de acasos e num tanto de coincidências. É quase como ganhar na loteria, só que ao invés de termos de acertar os 6 números da mega sena, precisamos estar lá quando o conjunto de acasos e coincidências acontecerem, do contrário não veremos os planetas se alinharem, e ai puuumm!!! não encontraremos o amor. O amor, então, é quase impossível, afinal, quase ninguém acerta os 6 números da mega-sena. Se fosse um filme, seria um daqueles com finais tristes, pois não bastasse ter que ser sortudo o suficiente pra estar no local certo e na hora certa, ainda temos que lidar com o fim do amor, porque como tudo que tem começo, também tem fim. E ao final nos resta o choro e a tristeza. E pra onde o amor vai quando o amor acaba? Talvez eu tenha me expressado errado, não acredito que o amor acabe, acredito que, na real, o amor se transfira. O amor é um ser alienígena que para existir precisa entrar em ...

Um conto de pós-horror

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Vomitado por Christian Palmer e Dayse Leone Era um domingo, o tempo estava fechado, tinha acordado cedo pra a viagem, estava cansada e o clima me deixara com frio. Não consigo ter certeza se era o clima daquele domingo nublado ou se era o clima do sítio que meu pai acabara de comprar, e onde faria uma festa para nossos familiares. Tinha pouco menos de 12 anos, ou um pouco mais. A essa altura já não consigo precisar a idade ao certo. Mas lembro que quase todos nossos familiares estavam presentes. Eles eram muitos, viviam espalhados por todo o país, o que dificultava o nosso reencontro. Antes daquela festa, não consigo me lembrar a última vez que nos reuníamos daquele jeito. E isso me deixava animada, principalmente com a Tia Malu, ela acabara de ter uma filha. Linda. Mas parecia, ao menos para mim, que estava sempre fazendo xixi ou cocô. - Ana!! - Chamou a tia Malu - Por favor, vá lá dentro pegar uma fralda, meu amor!! A essa altura, todos já estavam reunidos confr...